Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024
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Nem a chuva intensa impediu a plantação de mais quatro mil árvores

Em Portugal a maior parte do território florestal já não é autóctone, uma situação que foi se desenvolvendo ao longo de centenas de anos e que agora tem sido alvo de vários projectos que visam a sua reversão, que passam pela reflorestação adequada, através de iniciativas como o “Floresta Caixa”, pela sensibilização dos proprietários e promoção de uma gestão adequada que demonstre o verdadeiro potencial da floresta natural, um esforço liderado pela UTAD.

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Na manhã do dia 21, dois dias antes do Dia da Floresta Autóctone, e debaixo de chuva intensa, cerca de meia centena de pessoas juntaram-se na Samardã para plantar quatro mil árvores, uma iniciativa para “a promoção e conservação das florestas naturais” apadrinhada pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) e pela Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza.

Para além dos voluntários, entre os quais funcionários e familiares das dependências da CDG do distrito, a plantação dos exemplares autóctones, como o carvalho-negral, o carvalho-alvarinho, o castanheiro ou o loureiro entre muitos outros, num total de quatro mil espalhadas por um terreno de cerca de quatro hectares, contou com a colaboração de pessoas da zona contratadas para concluir a iniciativa.

Em comunicado, a CGD contabiliza que, no mesmo dia, no âmbito do projecto de recuperação da floresta original portuguesa, foram plantadas 15 mil árvores em sete localidades diferentes (Baião, Cadaval, Grândola, Ponte de Sôr, Portalegre, Sabugal e Vila Real), acções que contribuíram para que o projecto da “Floresta Caixa” já tenha ultrapassado as 107 mil plantas, “entre espécies arbóreas e arbustivas autóctones, colocadas em terrenos de Norte a Sul do país”.

“É hoje reconhecido o papel fundamental que as florestas têm na conservação do solo, na regulação do clima e do ciclo hidrológico, enquanto suporte de biodiversidade, sumidouro de CO2 e elemento importante na produção de matérias-primas fundamentais à nossa vida quotidiana. Em Portugal, grande parte da floresta natural desapareceu ou está muito alterada, sendo já raras algumas das nossas árvores autóctones”, revelou a mesma fonte.

Segundo as estatísticas mais recentes da Autoridade Florestal Nacional (2005/06) relativas à ocupação florestal, existem em Portugal perto de três milhões e 500 mil hectares de floresta, dos quais 618 mil, ou seja, 29,8 por cento, estão na Região Norte.

Os carvalhos são as espécies autóctones mais predominantes a nível nacional (representando quatro por cento de todo espaço florestal), sobretudo no Norte do país, onde ocupam uma área superior 71 mil hectares.

Segundo João Paulo Carvalho, docente e investigador da Universidade de Trás-os- -Montes e Alto Douro (UTAD), algumas espécies autóctones estão actualmente em risco, como por exemplo o azevinho ou o carvalho de Monchique, no entanto, tem-se assistido a um esforço de reversão de uma situação que tem se desenvolvido ao longo de centenas de anos e que se materializou na substituição das florestas naturais por espécies como os pinheiros ou os eucaliptos. “Antes apostava-se mais na rapidez do crescimento para um rendimento mais a curto prazo do que na qualidade da madeira”, explicou o docente, referindo que, com a sensibilização dos proprietários e promovendo uma gestão adequada do espaço florestal será possível “dar a volta a situação”.

E é exactamente com esse objectivo que a academia transmontana está a desenvolver um projecto de gestão e valorização da floresta autóctone que envolve várias entidades oficiais, privados e indústria, e que visa a implementação de técnicas de gestão sustentada e a formação de técnicos e produtores florestais. “Através de técnicas de silvicultura é possível conseguir um melhor aproveitamento da floresta”, explicou João Paulo Carvalho, sublinhando também que, em vez de se deixar que as árvores se degradem, deve-se intervir aumentando o seu potencial, através, por exemplo de “cortes selectivos”.

O docente da UTAD lembrou que o Código Florestal, publicado em Setembro, “já traz alguns avanços” no que diz respeito à protecção das espécies, salvaguardando que, “se determinada área considerada de interesse” for destruída, por exemplo, por um incêndio, deverá, obrigatoriamente, ser substituída por espécies autóctones, mas faltando, no entanto, alguma legislação mais específica que promova, por exemplo, um abate regulado e não indiscriminado das árvores.

Relativamente ao processo de sensibilização dos proprietários florestais para a aposta nas espécies nacionais, João Paulo Carvalho enumera várias vantagens das árvores autóctones, nomeadamente dos carvalhos, que, para além de terem uma madeira de melhor qualidade, logo de maior rentabilidade financeira, são mais resistentes ao fogo e mais eficazes no que diz respeito à conservação da biodiversidade e regulação climática.

“A floresta autóctone, ao contrário do pinhal, não acidifica o solo”, ou seja, garante a sua qualidade, defendeu o docente, revelando que “algumas pessoas que procuram justificar a expansão do pinhal referem que, face ao estado dos solos existentes (degradados por práticas de corte e fogo), o pinheiro era a única espécie passível de ser instalada”. “Isso não é verdade, e decorre de falta de conhecimento, pois existem outras espécies, que não o pinheiro, que poderiam ter sido favoravelmente utilizadas”, concluiu.

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