Não é aceitável tanto o laicismo, em que se repudia e não se dá espaço à religião na vida pública, promovendo-se um silenciamento agressivo da religião e da fé, remetendo-a para a intimidade de cada um, nem é aceitável o confessionismo ou regime teocrático, em que se dá preferência a uma religião e se configura a sociedade de acordo com as regras, os valores, as leis e princípios dessa religião.
O que tem imperado, nos últimos tempos, são as investidas laicistas. Está em marcha a locomotiva da laicização e secularização agressiva das sociedades contemporâneas. Procura-se combater toda e qualquer influência das religiões na vida social. É lamentável que assim seja, porque em sociedades pluralistas e democráticas deve existir espaço para todos. Mas também não é aceitável o contrário, uma religião procurar colar-se ao poder, influenciar a política e desejar definir os credos que se ensinam na escola e na família. No plano da representatividade do Estado e no exercício de regimes políticos, não se deve misturar a religião com a política. Quando vejo Donald Trump a pôr a mão na Bíblia e a pedir a bênção de Deus para a América, fico perplexo. Qual América? Deus abençoará um regime que constrói muros, que promove o racismo e a xenofobia, que congemina guerras e divisões, que inventa falsas notícias, que diz que primeiro que tudo está a América e os seus interesses e bem-estar e não a justiça, a comunhão e a fraternidade com os outros povos? E quando vejo pastores evangélicos ao lado do Senhor Bolsonaro no Brasil, possivelmente para conquistarem influência e privilégios, e este a invocar Deus para que abençoe a nação, também fico atónito. As religiões têm de saber seguir o seu caminho sem mancebias com o poder e não cabe aos políticos impor credos ou agendas religiosas na vida social. Mesmo o nosso Presidente da República, católico assumido, convém ter alguma prudência neste campo. No exercício do seu cargo, não deve expor demasiado a sua opção católica.