Quinta-feira, 28 de Março de 2024
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Não será preciso educarmos os afetos e as emoções?

São cada vez mais notórios sinais de que descurámos a educação afetiva e emocional das novas gerações, e até todos poderemos sentir que estamos mais pobres e instáveis nos afetos e com emoções mais descontroladas.

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António Damásio, numa recente entrevista ao Diário de Notícias, aponta possíveis causas:

“Estarão os atuais sistemas educativos a falhar? Em parte, sim, desatualizados perante os novos desafios que enfrentamos. Mas temos vários fatores presentes: a aceleração do ritmo de vida, a perda de influência de sistemas religiosos, que contribuíam para uma maior moderação contra a agressividade e a violência, a transformação do entretenimento que, no presente, é muito mais violento do que no passado, a transformação imposta pelas redes sociais e a desregulação que resulta delas.” E cavando mais fundo, toca num fator fundamental: “Hoje, há a substituição da educação, do tempo pessoal e de reflexão, pela diversão e entretenimento. Há o confronto constante com a ação, por vezes violenta, como substituta da reflexão e da calma. É muito difícil as pessoas terem tempo para pensar soluções alternativas quando tudo aquilo que lhes é oferecido é violência e confronto.”
Com os grandes progressos tecnológicos, hoje é servida uma grande dose de diversão e de entretenimento à sociedade atual, sobretudo às crianças, aos adolescentes e aos jovens.

Fica muito pouco tempo para pensar, refletir, questionar, conviver, brincar de forma saudável com os outros, participar, comprometer-se em ações e atividades, dar tempo aos outros, crescer por dentro de forma humana e consistente. No ensino atual, há um foco excessivo na formação científica e técnica, dá-se muita atenção à dimensão cognitiva e cerebral, e descuida-se a dimensão afetiva e emocional do ser humano. Na verdade, o ensino deve preocupar-se com a formação integral do ser humano, porque todos sabemos que não importa ser um bom especialista ou um grande profissional se primeiro não se é uma boa pessoa.

Talvez seja tempo de se recuperar a importância das artes e das humanidades. Fazem falta para colmatar as deficiências de um ensino demasiado científico e técnico e de uma sociedade drogada em diversão, que não pensa e só vive voltada para fora. Precisamos da literatura, do teatro, do cinema, da filosofia, da música, da pintura, das artes para nos compreendermos melhor a nós e aos outros, enfim, para aprendermos a ser mais humanos, a termos educação afetiva e emocional.

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