Sexta-feira, 13 de Dezembro de 2024
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O Ano Paulino e o Ano Sacerdotal

1 - Algumas pessoas, que leram os textos aqui publicados no Ano Paulino, têm-me pedido que continue essa colaboração durante o Ano Sacerdotal. Não prometo apresentar uma reflexão todas as semanas, mas vou procurar corresponder a essa delicadeza.

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Pessoalmente, o Ano Paulino permitiu-me rever o estudo feito há décadas sobre S. Paulo. Não havendo desde então mudanças de doutrina, houve mais investigação sobre a vida de Paulo, os seus conflitos culturais e o ambiente social que rodeou o seu trabalho apostólico. Nisso encontrei algumas novidades em relação aos estudos oficiais de há cinquenta anos, uma vez que os estudos bíblicos têm feito enormes progressos nos últimos anos. Conhecer as atitudes interiores de Paulo ajuda enormemente a apreciar as suas cartas, o seu calor religioso e humano, e alcance de algumas palavras que não são mero estilo literário.

O Ano Sacerdotal vai coincidir com os cinquenta anos da minha ordenação sacerdotal, as chamadas Bodas de ouro Sacerdotais. É mais um estímulo.

2 – Há entre o Ano Paulino e o Ano Sacerdotal uma continuação: Paulo é o modelo da pessoa que descobre a novidade de Jesus Cristo e se faz seu seguidor, e é também o modelo do pastor e evangelizador das cidades e organizador das comunidades. Nos textos que publiquei no Ano Paulino não fiz a análise temática interna de cada carta, o que poderá fazer-se agora no que tange ao Sacerdócio e temas paralelos.

Metodologicamente, o Ano Paulino desenrolou-se em torno de uma pessoa e de uma mensagem: a pessoa foi Paulo e a sua conversão; a mensagem e o objectivo do Ano Paulino era despertar nos fiéis o amor à Palavra de Deus em geral, ensinando-os a usar correctamente a Bíblia para estudar e rezar, fazer a «lectio divina».

O Ano Sacerdotal tem um esquema semelhante: tem um patrono pessoal – o centenário da morte de S. João Maria Vianey, que foi pároco de Ars, em França, logo depois da Revolução Francesa, e que faleceu em 1959, o ano seguinte às aparições de Nossa Senhora em Lurdes; e tem um objectivo mais vasto – animar os padres numa renovação interior e na sua renovação teológica, e auxiliar todos os fiéis a interessar–se pelo ministério do padre, compreendendo que o padre é um precioso dom de Deus para a vida da Igreja e do próprio mundo.

Sobre a pessoa de Paulo publicaram-se alguns livros interessantes; sobre a Bíblia apareceram novas edições e cadernos pastorais auxiliares.

Agora no Ano Sacerdotal, a leitura mais indicada sobre o cura de ARs é a biografia escrita por Trochu, A.O. Braga; para a reflexão mais alargada sobre o padre há vários textos do magistério recente da Igreja. Antes de estudar esses textos, recomenda-se ler na Bíblia o que ela diz sobre o padre, dando continuidade ao Ano Paulino. Requer-se coragem e brio.

Com o Ano Sacerdotal pode acontecer o mesmo que se passou com o Ano Paulino. Tudo depende do esforço pessoal e da organização de grupos. Em algumas paróquias, mercê do muito esforço dos párocos, o Ano Paulino levou a um maior apreço e uso da Bíblia. Pelo que vi e me disseram, podia ter-se feito muito mais, sobretudo com os fiéis que já trabalham na Liturgia: leitores, salmistas e cantores. Faltou alguma criatividade, optimismo e pedagogia dos responsáveis pastorais para vencer a preguiça dos fiéis que, entre nós, confundem fé com sentimentalismo religioso de velinhas e frases feitas, sem dar lugar à cabeça e à reflexão. Ora Jesus apresentou-Se como Verbo, Palavra, Logos. Temos de chegar aí. Também sobre o padre é conveniente estudar, aprofundar ideias. Ninguém espere que os outros façam aquilo que só cada um pode fazer.

3 – Para hoje, proponho uma leitura suave das três cartas pastorais (duas a Timóteo e uma a Tito) e a carta aos Hebreus.

Nessas quatro cartas podem encontrar-se as duas faces do Sacerdote católico: a face do Pastor, as qualidades do organizador das comunidades (aspecto dominante nas cartas pastorais), e a face do múnus sacerdotal (tema da carta aos Hebreus).

Expliquemos:

Para um grande número de fiéis, o Padre é o homem da missa, dos sacramentos, das procissões, dos funerais, de tudo o que é rezar e pregar; para outros, sobretudo os menos praticantes, o Padre deve ser o homem das questões sociais, dos lares de idosos e dos infantários, dos centros sociais paroquiais.

Dando um nome a estas duas posições aqui excessivamente separadas, diremos que a primeira face, a das celebrações, é a do Sacerdote, o homem das coisas sagradas, cuja raiz e fonte se encontram bem fundamentadas na carta aos Hebreus onde Jesus é apresentado como Sacerdote e Vítima; a outra face, a de Pastor, o organizador de actividades sociais, o governador, aparece predominantemente nas três cartas pastorais a Timóteo e a Tito.

Esta divisão das duas vertentes de «Sacerdote» e de «Pastor» é, como se compreende, algo forçada e não totalmente correcta, porque ser Sacerdote, o homem das celebrações e da oração, faz parte da actividade do Pastor, e a actividade do Pastor, o homem da organização da comunidade e das actividades sociais, tem de ser incluída no trabalho sacerdotal, como prolongamento das celebrações litúrgicas.

Dito de outro modo, no Padre não se podem separar a oração e a acção pastoral, o sacerdote e o pastor. Cada uma delas prolonga e fundamenta a outra.

Todavia, a divisão é didáctica para analisar o que se passa entre nós.

4 – Usando o esquema referido e olhando sempre o que se sente na sociedade, os Padres revelam ser mais «sacerdotes» ou mais «pastores», são mais «homens do altar» ou da «organização»?

E o povo, de qual dos dois aspectos gosta mais?

Esses dois aspectos não corresponderão às tendências que vêm a desenhar-se na sociedade entre os ditos «praticantes» e os «não praticantes»?

Que cautelas isso sugere aos Padres e aos fiéis?

Nesta semana, ler os textos sacerdotais in Hebreus 3, 14-16; 8; e os textos pastorais in Tim3,1-13; 2Tim 22-26. Tit 1,5-9,

 

* Bispo de Vila Real

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