Domingo, 1 de Dezembro de 2024
No menu items!

O Ano Paulino: Mártires e Martírio de Pedro e Paulo

1 – Estamos a chegar ao fim do Ano Paulino cujo encerramento oficial se fará na Basílica de S. Pedro, em Roma, no dia litúrgico do martírio de S. Pedro e S. Paulo. Em Vila Real, procederei a acto semelhante no dia 28, celebrando a Eucaristia na igreja paroquial de S. Pedro.

-PUB-

A Igreja une numa só festa os dois Apóstolos, considerados os fundamentos da fé, os ministérios da «Palavra e da Autoridade», mas isso não significa que hajam morrido no mesmo dia, nem no mesmo ano, nem no mesmo lugar. S. Pedro foi martirizado mais cedo, crucificado dentro da cidade na então colina do Vaticano e aí sepultado com outros cristãos em lugar cedido por família cristã. Várias igrejas foram sucessivamente construídas sobre esse túmulo, que seria descoberto por escavações autorizadas por Pio XII, exactamente na vertical do actual altar-mor da Basílica de S. Pedro, chamado por isso «altar da confissão». (Nesse tempo as igrejas só tinham um altar). A palavra confissão significa aqui «martírio», o acto em que o cristão «confessa» a fé pela sua morte. Segundo os dados de que dispomos, Paulo foi decapitado durante a primeira perseguição de Nero entre os anos 64 e 68, fora dos muros da antiga cidade de Roma, em virtude de ser cidadão romano e, como tal, ser vedado infligir-lhe morte violenta dentro da cidade.

A construção das duas basílicas sobre os locais das respectivas sepulturas obedece à legislação romana que tinha pelos sepulcros um enorme respeito e não autorizava a sua deslocação: «Não se mudam os sepulcros, erguem-se sobre eles os altares»

O túmulo de Paulo na via Ostiense, onde hoje se levanta a célebre «Basílica de S. Paulo Fora dos Muros», foi venerado como tal desde o início do cristianismo. As escavações feitas por ocasião da construção da actual Basílica revelaram que S. Paulo fora sepultado em campa rasa entre pagãos, e essa sepultura mantém-se também na vertical do altar-mor. A actual Basílica sucede a outra destruída em 1823 por um incêndio, e para a sua reconstrução contribuíram muitas nações e a Igreja Ortodoxa. A Basílica está confiada aos Beneditinos que ali têm um mosteiro. No átrio encontra-se a belíssima escultura de Paulo, lavrada num bloco original de mármore de 400 toneladas: Paulo está meditativo, com o livro das cartas numa das mãos e a espada da Palavra na outra. Visto de um lado, o rosto da escultura exprime a tranquilidade do Apóstolo, própria de «quem sabe em quem confiou»; do outro lado, exprime ansiedade e tortura íntima de quem sabe que são muitos os que não conhecem nem seguem a Cristo.

2 – É sabido que a Igreja celebra os santos no dia da sua morte por ser esse o «dies natalis», dia do nascimento para o Céu. Alguns santos, raros, têm duas festas, como acontece com S. Paulo: uma em 25 de Janeiro, dia da conversão, e outra em Junho, o martírio. Algo semelhante se dá com S.João Baptista: uma em 24 de Junho, dia do nascimento, e outra em 29 de Agosto, a assinalar o martírio.

O martírio era, nos primeiros séculos da Igreja, o caminho «normal» de um cristão e os historiadores chamam a esse período «A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires» (Daniel Rops). Com o reconhecimento jurídico da Igreja e o crescimento numérico dos cristãos perdeu-se o fervor inicial, e alguns fiéis mais fervorosos, em busca de uma vida cristã mais rigorosa, fizeram surgir as comunidades religiosas.

O mártir cristão não é um suicida que procure intencionalmente a morte, mesmo com belas intenções. Impende sobre ele a obrigação de defender a sua vida e a dos outros e só aceitará morrer se esse for o preço a pagar pela fidelidade a Deus.

Aliás, no seu sentido mais rigoroso, a palavra mártir não é sinónima de sangrento, mas de «testemunha»: Jesus é a «testemunha fiel» do Pai e da Verdade (Jo 3,12; Jo 18,37); o Espírito Santo dará «testemunho» de Jesus (Jo 15,26), nunca podendo ser mártir no sentido comum; os Apóstolos são «testemunhas» de Jesus (Act.1,3), mesmo antes do martírio; na estrada de Damasco Paulo é constituído «testemunha» de Jesus diante de todos os homens (Act 22,15; 26,16) e em terras pagãs atesta a ressurreição (1 Cor 15,15), e a fé nasce nas comunidades pela aceitação desse testemunho (2Tel 1,10;1 Cor 1, 6).

Em virtude de o cristão violentamente morto pela fé se tornar uma testemunha especial, veio a reservar-se para ele a palavra «mártir» e para os outros cristãos que sofreram a perseguição mas não foram mortos reservou-se o nome de «confessores» da fé. Convém, no entanto, recordar que a todo o cristão é pedido o «martírio» da vida de fé, mesmo sem chegar ao sangue, pois todos os baptizados estão chamados à «santidade de vida» que é um caminho heróico. Quem não conhece o «martírio» da vida conjugal e dos pais católicos na educação dos filhos? Quem não conhece o «martírio» dos pastores no governo das comunidades cristãs, e o «martírio» dos empresários cristãos, dos médicos, dos juristas, dos professores no exercício digno das suas profissões, dos políticos verdadeiramente empenhados no bem comum, e dos jovens que queiram ser fiéis à fé católica?

3 – A pretexto de a tornar «razoável, vem a assistir-se a um «aburguesamento» da vida cristã, retirando-lhe o apelo ao heroísmo no seguimento de Cristo. Inventou-se o «católico sem Igreja e sem piedade», fazendo dele um sal que não salga.

São sinais desse aburguesamento a facilidade com que se falta à Missa dominical, a troca da catequese dos filhos pela frequência de actividades artísticas e desportivas no fim-de-semana, a aceitação da catequese das crianças sem Missa dominical sob pretexto da necessidade do descanso semanal, a busca dos sacramentos sem preparação, a aceitação pacífica da legislação anti natural sobre o casamento, a família e o divórcio, a mentalidade criada pela «associação do planeamento familiar» acerca da natalidade que se vem revelando escola esterilizadora.

São do mesmo teor a filosofia da educação escolar que substitui pela máquina o esforço pessoal da criança, do adolescente e do jovem, a redução da educação sexual a técnicas anticonceptivas e abortivas no caso de gravidezes imprevistas, o recurso à pílula abortiva do dia seguinte e por fim o aborto oficial. Como processo educativo de jovens tudo isso é o exemplo consumado de um Estado sem valores, apoiado somente em análises sociológicas e técnicas. É a mesma mentalidade que censurou Bento XVI por ele pedir para os africanos uma política de saúde que não faça deles gente abúlica e incapaz, meros consumidores dos produtos farmacológicos industriais.

 

4 – Neste final do Ano Paulino, interrogue-se cada um como o viveu, que textos paulinos meditou, que livros estudou, que cursos frequentou, que jornadas de estudo e de oração promoveu! A evangelização, tanto por parte dos evangelizadores como dos evangelizados, foi sempre «martirizante» e hoje é-o mais ainda, pela necessidade de desinstalar as pessoas de passatempos e ideias feitas. Sem esforço não se consegue fazer florir o deserto. As dores de cabeça de Paulo são as de qualquer evangelizador.

Começou já o «Ano Sacerdotal», a exigirá esforço como o Ano Paulino. A leitura das Cartas Pastorais (as duas a Timóteo e a Tito) e a Carta aos Hebreus pode ser uma ponte para fazer a transição do Ano Paulino para o Ano Sacerdotal: as três desenham a face do Pastor, e a dos Hebreus a face sacerdotal. Conjugadas com a carta aos Efésios,

APOIE O NOSSO TRABALHO. APOIE O JORNALISMO DE PROXIMIDADE.

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo regional e de proximidade. O acesso à maioria das notícias da VTM (ainda) é livre, mas não é gratuito, o jornalismo custa dinheiro e exige investimento. Esta contribuição é uma forma de apoiar de forma direta A Voz de Trás-os-Montes e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente e de proximidade, mas não só. É continuar a informar apesar de todas as contingências do confinamento, sem termos parado um único dia.

Contribua com um donativo!

VÍDEOS

Mais lidas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS