Sábado, 14 de Dezembro de 2024
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O Dia do Doente, Dia de nós todos

1 – O dia onze de Fevereiro, historicamente ligado ao culto da Senhora de Lurdes, foi oficialmente escolhido pelo Papa João Paulo II como o «Dia Mundial do Doente».

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Neste ano de 2010 a celebração faz-se pela 18ª vez e, nesse dia, ocorre também o 25º aniversário da criação do «Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde», uma estrutura católica criada pelos Papas para ajudar a estudar os problemas colocados acerca da saúde. Ainda recentemente houve em Fátima umas jornadas organizadas pelo Secretariado da Pastoral da Saúde para reflectir o problema dos transplantes.

Para a celebração do dia 11, o Papa Bento XVI enviou uma Mensagem para o «Dia Mundial do Doente»

2 – A doença é uma situação que um cristão deve procurar seja passageira e dela se volte à saúde. A saúde é que é o estado normal. É isso que estabelece o 5º mandamento da Lei de Deus, constante da lei do Sinai dada a Moisés e aperfeiçoada por Jesus Cristo: «não matar nem causar outro dano no corpo ou na alma a si mesmo ou ao próximo». Em forma positiva, diríamos: «cuidar da saúde física e psíquica de si próprio e dos outros».

É uma obrigação moral correspondente ao sentimento natural. A vida é um projecto múltiplo a desenvolver permanentemente e, se pudermos viver até aos oitenta anos, não devemos ficar nos setenta e nove; lido na forma negativa, inclui uma série de tentações a vencer e que variam ao longo dos séculos: o homicídio e o suicídio nas mais variadas formas (incluindo a guerra, o terrorismo e o infanticídio abortivo), a mutilação física (ainda em vigor em certos códigos penais e culturas orientais), a difamação, a instrumentalização da pessoa (quer prisioneiros de guerra, quer pessoas em estado embrionário para fazer delas cobaias clínicas, quer trabalhadores), a violência para a obtenção de órgãos sólidos para transplantes, o racismo de qualquer forma e cor, a obstrução ao ensino e à informação, à emigração e circulação de pessoas, à cultura e ao legítimo descanso e distracção.

2 – De qualquer modo, a pessoa humana não é eterna, e a velhice, a doença e o sofrimento lembram-nos constantemente a marca indelével da nossa condição de criatura. Quando estive em Coimbra, encontrei médicos cardiologistas antigos professores a serem operados ao coração, homens que trataram centenas de doentes e vieram depois eles próprios pedir a um colega mais novo que lhe colocasse uma válvula ou remendasse as coronárias! Percebi que a medicina é a arte de atrasar a morte, como dizia humoristicamente um desses cardiologistas, mas não a evita. A luta contra a morte reveste aspectos de insensatez quando é exagerada, acima das possibilidades orgânicas e acima das possibilidades económicas. É o que se chama o «encarniçamento» ou distanásia ou os recursos exagerados para prolongar a vida. Afinal, isso pode ser uma violência à dignidade da pessoa e à nossa condição de criatura, e uma tal prática tende a espalhar-se com a sedução de clínicas da última moda, que, afinal, nada resolvem.

Por conseguinte, viver a doença e sentir que a vida há-de acabar é ser realista e humano. Neste sentido, a dor pode chamar-se um sinal de aviso ao homem da sua condição, e é um sinal benéfico, o alarme existencial contra o perigo da idolatria humana. A idolatria humana manifesta-se na teimosia em ser dono de tudo e ditar a morte a si mesmos: é a falada eutanásia, o pretenso direito de pôr termo à vida em nome da dignidade humana. A esse respeito, lembro-me sempre do nosso Torga e da sua doença do tumor na próstata: hei-de levar até ao fim a minha humana condição.

3 – Deve reconhecer-se, porém, que o sofrimento atinge, por vezes, um elevado sentimento de destruição da pessoa. O doente, mormente o doente de doença prolongada e dolorosa, percebe o seu desmoronamento físico e psíquico e carece urgentemente de ajuda variada (médica, farmacológica, cirúrgica e humana e espiritual) para não desanimar. Os recursos religiosos (diferentes dos ditos genericamente espirituais) potenciam enormemente os recursos naturais. Os cristãos têm na pessoa de Jesus o modelo e a fonte dessa capacidade: o cristianismo não cultiva o pessimismo nem o dolorismo, mas é capaz de transformar a dor em moeda de salvação!

A última legislação portuguesa sobre a assistência hospitalar reconheceu a influência da vida espiritual no tratamento dos doentes e, por isso, o direito dos doentes aos serviços de assistência espiritual entra no capítulo de contributo terapêutico. A respectiva legislação é pormenorizada mas bastante serena, defendendo o doente do perigo de pressões doentias e de grupos estranhos. Vem exposta no Decreto-Lei n. 253/2009, publicado no Diário da República, 1 Série, n.185, de 23 de Setembro de 2009.

Os visitadores dos doentes devem ser ensinados a enquadrar-se nessa legislação, de modo que nem perturbem os serviços hospitalares nem privem o doente da sua autonomia e dos seus direitos. Entretanto, as pessoas saudáveis e os novos fazem bem em ir aprendendo a lidar com as horas sombrias. Um guia judeu, a quem perguntavam por que usava aquele curioso «chapeuzinho» na cabeça, respondia sorrindo: é para me lembrar que a cabeça há-de cair depois de cair o cabelo.

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