Mas, de facto, já é tempo de se acabar com um costume que não fica bem numa festa cristã, é feio, saloio, espúrio, é um contratestemunho da fé cristã, é um espetáculo deprimente vermos andores airosos e formosos cobertos de notas. Jesus Cristo recomendou uma relação sóbria e discreta com o dinheiro, e é assim que deve ser em todos os gestos e atividades da Igreja e dos cristãos. Infelizmente, nas festas cristãs, nada disto se observa e sobrepõem-se a vaidade, o exibicionismo e a ostentação, até ao ridículo de se parar uma procissão para se colocar uma nota à frente de toda a gente, a rivalidade e a disputa para se amealhar sempre cada vez mais. Até parece que o dinheiro é o que mais importa nas festas cristãs, o materialismo a reinar sobre a espiritualidade e a vivência da fé. Santos, que viveram uma vida humilde e desprendida dos bens materiais, que seguiram Cristo pobre e amigo dos pobres, são expostos ao mundo cobertos de dinheiro. Tudo isto é lamentável e inaceitável.
No tempo de Jesus, também o dinheiro e uma ardilosa teia de interesses estavam no centro do culto do templo de Jerusalém, e sabemos o que fez Jesus. Pegou num chicote de cordas, começou a semear bordoada por todo o lado, virou tudo de pantanas, expulsou os vendilhões do templo, mostrando que era preciso purificar o culto. Se Ele viesse a muitas das nossas festas cristãs, pergunto-me o que Ele faria. O clero não está isento de culpas no enraizamento deste costume nas comunidades cristãs. Para se obter receitas e se poder juntar dinheiro para vários fins paroquiais, instigou-se a prática, ou tolerou-se para se atingir muitos e variados objetivos, desde construção de Igrejas, santuários, remodelações, realizações estrondosas, para vaidade e glorificação do próprio clero. Agora há que, com formação e paciência, corrigir a prática, que em nada dignifica as festas cristãs católicas.
Como em tempos afirmou D. Jorge Ortiga, “As procissões são atos religiosos, de louvor a Cristo, a Nossa Senhora ou aos santos e não cortejos de ostentações materiais e profanas”, que nas nossas comunidades cristãs se vá promovendo mudanças de mentalidade e a correção destes costumes e práticas indignas do espírito cristão com que devem ser feitas as nossas festas e do exemplo e testemunho que os cristãos devem dar através das suas festas.