Domingo, 1 de Dezembro de 2024
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Agostinho Chaves
Agostinho Chaves
Trata o jornalismo por tu. Colabora com a VTM há mais de 25 anos. Foi Diretor entre 2014 e 2019. Passou por meios de comunicação nacionais, como o Comércio do Porto e a Rádio Renascença.

O frio e o fogo

Segundo os resultados do “Censos Sénior 2018”, Vila Real é o distrito do país com mais pessoas de idade acima dos 65 anos a viver sós, se bem que não muito afastada de outros distritos do interior do país (Guarda, Viseu, Beja, Bragança) onde os valores também são elevados.

Como reflexo dessa situação de isolamento, têm ocorrido muitos casos de mortes por acidentes ligados a fogos domésticos (portanto, também ligados à ocorrência de frio), um número crescente nos últimos anos e significativo na semana passada. Com efeito, no distrito de Vila Real, morreu um idoso num incêndio da casa em que vivia só, na cidade vila-realense; morreu outro, em Gache, queimado por ter caído sobre a lareira da sua casa em que também vivia sozinho; e, em Chaves, morreu carbonizado um homem paraplégico que também vivia só, em Calvão. Já antes, em São João da Pesqueira, morrera intoxicado um casal vitimado pelo monóxido de carbono libertado por uma braseira, quando dormia. Neste caso, eram emigrantes que vieram passar a época do natal e o ano novo a casa de seus pais e foram eles as vítimas.

Dirão muitos que isto acontece por causa do tempo frio. Outros, no entanto, acentuarão que se trata de uma situação nefasta na sociedade pouco equilibrada dos dias de hoje. E entre esses desequilíbrios sobressaem os que se referem aos modos de vida familiar: pessoas envelhecidas dominantes, profusão de viúvas, os mais jovens emigrados, deficientes condições sanitárias, alimentares, medicamentosas e infraestruturais, como as que se referem ao combate do frio. Para além disso, as casas em que os idosos habitam nem sempre têm condições mínimas de qualidade para que nelas se viva, quanto mais de segurança para quem nelas se refugia, sem o testemunho dos outros, vizinhos que sejam. A assistência domiciliária das entidades sociais existe, mas não abrange todos de igual maneira. No fundo, lá estaremos nós a avaliar os processos financeiros necessários e as eternas carências que o país, nesse domínio, regista também.

Ficarão decerto os remorsos e o sentido de culpa das pessoas que abandonaram os idosos à sua sorte, condenando-as à solidão.

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