A 15 de outubro, altura em que já não era suposto haver ignições, mas mais uma catástrofe se abateu inclemente sobre o interior, devastando praticamente um quarto do território nacional.
País em choque, responsáveis governamentais de cabeça perdida, perante uma calamidade natural (?) já comparável ou até superior ao terramoto que devastou Lisboa na manhã de 1 de novembro de 1755. Neste cenário, tão devastador para o interior, surgiram as vozes de técnicos, políticos, académicos, comunicação social. Vozes de revolta com opiniões mais ou menos fundamentadas, para tentar minorar os vultosos prejuízos causados a milhares de famílias e cidadãos, que de um dia para o outro se viram envoltos em cinza e desolação.
Cremos até que o país real e em particular o poder administrativo, ainda se não apercebeu das consequências que esta devastação vai causar no futuro a estas regiões eufemisticamente agora designadas de territórios de baixa densidade.
Ouvimos neste fim de semana, num seminário, sobre Gestão da Floresta e Combate aos Incêndios, organizado pelos Bombeiros da Cruz Verde (Vila Real) uma voz lúcida, vinda de Mação. O Engº. António Louro, Vice-Presidente da Câmara daquele Concelho e Presidente do Fórum Florestal, que nos relatou a experiência de uma região, onde a autarquia apostou desde, há pelo menos 20 anos, no ordenamento florestal de todo o Município, com as técnicas e os meios mais sofisticados. Afinal, o seu território tem vindo a ser pasto das chamas ciclicamente, como aconteceu mais uma vez neste verão, reduzindo a cinzas em mais de 50 % da área a paisagem daquele concelho integrado na denominada Região do Pinhal Interior.
E porquê? Porque o território interior do país está completamente desarmado em termos populacionais, para sustentar, quer o ordenamento florestal, quer o combate ao fogo, quando ele deflagra. E citou os seguintes números. Mação tinha 70 mil habitantes no início de 1900. Atualmente tem pouco mais de 7 mil, dos quais mais de 50 % tem idade superior a 60 anos. Os proprietários rurais deixaram de ter capacidade (não apenas económicas, mas até físicas) para gerirem os seus bens. Ou seja, o mundo rural está a morrer. Como de resto, temos vindo a alertar nesta nossa coluna de opinião. Atenhamo-nos a Trás-os-Montes e Alto Douro, que faz parte também desta realidade. À parte os núcleos urbanos sede dos concelhos, o panorama rural é idêntico. Já não há massa crítica para fazer reverter a situação.
Quer-nos parecer, que esta desgraça que se abateu agora sobre o interior deve fazer os governantes e os políticos em geral refletir sobre as reais possibilidades de revitalizar estes territórios, fazendo o seu ordenamento (florestal e agrícola) de harmonia com as suas potencialidades próprias.
Neste Seminário no início foi dada a voz aos responsáveis da nossa Universidade nestas matérias. E apercebemo-nos que há ali conhecimento científico e vontade de lançarem no Serviço de Extensão Rural, para o qual a nossa UTAD está muito capacitada, para o ordenamento florestal, para o fomento agrícola (silvicultura, agricultura e pecuária), com a liderança naturalmente das respetivas autarquias locais.
Temos que ser nós localmente a propor e a projetar as soluções que pretendemos para revitalizar os nossos territórios. E não estar à espera que o Terreiro do Paço venha até nós. Porque, sejamos claros, até agora nunca veio.
Porque o tema merece aprofundamento, a ele voltaremos em breve.