Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2024
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O meu barbeiro

O meu barbeiro, como todos os barbeiros, é filósofo. À força das milhares de cabeças que já lhe passaram pelas mãos, como que se foi apossando da sabedoria que delas emanavam, desde as mais empíricas às mais científicas, ou seja: desde a do pedreiro, à do doutor. Contudo, o meu barbeiro nasceu lá pelas bandas de Amarante, numa aldeia onde não consta que tivesse passado Cristo nem muito menos algum mestre-escola, pelo que a instrução primária que consta do seu currículo, mais não passa do que uma certidão que o regedor (à altura) terá exarado entre dois copos e um salpicão, lá na adega do beneficiado. Rabisca o nome, lê ao ralenti, e nas contas lá se desenrasca. Mas é filósofo, portador daquela filosofia de alvo certo que não erra uma mosca ao lado. Explico.

Quanto ao desemprego, discursa esta opinião:

– Num país onde não se produz nada? Nem um alfinete? Onde está tudo por fazer? Quem diz que não há trabalho? Pode faltar tudo, mas trabalho é que não falta! Agora… empregos … isso sim, acredito que falte!

E se lhe falo do défice, avança logo:

– Histórias da carochinha! Mandem metade dos políticos para casa, cortem-lhes à ração, apertem as aduelas às Câmaras, acabem com as empresas públicas, e vai ver se o lucro não aparece!

Calo-me. O barbeiro, ao falar nestas coisas, enrubesce, ergue a voz de revoltado, esbraceja, e não é aconselhável retorquir a um homem com uma navalha na mão.

E, como as cerejas, a raiva de um homem

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