Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024
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O padre não cativa

De vez em quan­-do, quan­do vem para o centro da cavaqueira cristã a participação na Eucaristia dominical e o empenho dos cristãos locais nas ações e nas atividades das paróquias, alguém diz sempre: «Sabe, o nosso padre não cativa».

 Piedosa desculpa. As pessoas habituaram-se a dizê-la irrefletidamente, não se apercebendo que, ao proferi-la, estão a falar mais delas do que dos seus párocos. Temos uma multidão de cristãos que, apesar de ter feito todo o percurso catequético e de cumprir toda uma tradição que lhe é dada a beber pela família ou pelo meio ambiente, por dentro não se converteu a Cristo e ao Evangelho, nem se sente parte ativa e integrante da Igreja. Depois, passa o tempo todo a inventar desculpas para não se viver o que não se quer viver e o que de verdade não se quer assumir. Tem de haver sempre um «alguém» que é o culpado por aquilo que eu dissimulo que desejaria fazer e viver, mas não faço nem vivo, que esconda a minha incoerência, o meu comodismo, o meu egoísmo, o meu desinteresse e a minha apatia.  

Um cristão esclarecido, bem formado e maduro, sabe que a vivência da sua fé e o seu compromisso com Jesus Cristo e com a Igreja não está dependente da desenvoltura e da habilidade do seu pároco ou da sua capacidade de estratégia, da sua performance e sedução comunicacional e celebrativa, já que sabe que diante de si terá sempre um homem com qualidades e limitações. Se alguém aceitou ser cristão foi porque Jesus Cristo, o Evangelho e a vida da Igreja o cativaram. É em Jesus Cristo que temos de nos centrar e não no padre, que pobremente o representa. Cristo é que fascina. Ser cristão não é uma questão de padres, mas é um compromisso e uma opção decidida e assumida livremente por Jesus Cristo e pela Igreja. O problema de fundo, que leva muitos cristãos a dizerem «o padre não cativa», é a falta de convicção e de maturidade cristã. Temos muitos cristãos que não têm convicções, não disfarçando que vão à Igreja por conveniência ou arrastamento. Confundem a fé e a religião com o padre, estando sempre à espera que venha o padre das novidades ou o padre porreiro para entreter e conviver, mas que não proponha a exigência, a conversão e a coerência. É o padre que não cativa ou sou eu que, afinal, ainda não estou nem nunca estive cativado por Cristo e pela Igreja?

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