Sexta-feira, 6 de Dezembro de 2024
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Eduardo Varandas
Eduardo Varandas
Arquiteto. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

O pequeno Tonho

Nos primeiros anos da década de 60, do século passado, Portugal registava uma elevada taxa de mortalidade infantil, causada por ausência de uma política coerente de cuidados de saúde primários.

Uma das muitas crianças vítimas desse flagelo social foi o pequenito António, que vizinhos e amigos tratavam, carinhosamente, pelo diminutivo Tonho. Vivia numa casa, defronte da minha, de dois pisos, exígua e paupérrima nas suas condições de habitabilidade. No 1.º piso localizava-se aquilo que vulgarmente se designa por loja, onde se armazenava a lenha, para alimentar a lareira, se guardavam alguns animais domésticos, quando os havia, e utensílios de uso agrícola. Do 2.º piso fazia parte, apenas, um pequeno compartimento, a meio do qual ficava a lareira e no extremo oposto, à porta da rua, um espaço diminuto, que servia de quarto de dormir, delimitado por um reposteiro improvisado. 

Dizia-se na altura que o miúdo tinha já vindo fora de tempo, dado que a diferença de idades entre ele e os outros dois irmãos, que faziam parte do agregado familiar, era considerável. Todavia, à medida que ia crescendo, o Tonho tornara-se uma criança muito querida da vizinhança, entrava e saía da casa de cada um como se fosse da família, tornando-se o alvo de todas as atenções e o benjamim do lugar. Aliava à sua inteligência nata, outras caraterísticas humanas que faziam dele uma criança modelar. Teria uns quatro anitos, quando um dia adoeceu gravemente. Naquele tempo, não havia INEM, nem viaturas médicas de emergência, nem linha de saúde 24, foi de urgência para o hospital da “Bila”, no carro de praça da aldeia, do saudoso António Ferro. O hospital ficava junto ao antigo liceu, próximo do governo civil, num edifício imponente, que ainda hoje conserva a traça primitiva, mas, infelizmente, apesar de todos os esforços desenvolvidos pelos seus progenitores e a dedicação do pessoal hospitalar, o Tonho não conseguiu sobreviver à grave enfermidade que o tinha acometido. O seu falecimento causou grande consternação e pesar em toda a comunidade, principalmente junto dos vizinhos que o consideravam como um dos seus entes queridos.

Foi sepultado no talhão do cemitério de Guiães, especialmente destinado às crianças, indo fazer companhia aos muitos anjinhos que partiram antes dele, vítimas prematuras de uma doença fatal. O Tonho deixou muitas saudades em todos nós.

PS: Aproveitando a quadra natalícia que se avizinha, desejo a todos os colaboradores e leitores da VTM votos de boas-festas.

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