Sábado, 26 de Abril de 2025
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Adérito Silveira
Adérito Silveira
Maestro do Coral da Cidade de Vila Real. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

O prazer de cantar Monsenhor Minhava

Nasci em Mateus no tempo em que toda a gente ia à Missa. Era obrigatório. Faltar era pecado e objeto de confissão imediata. Era em latim e de costas para o povo com homens à frente e mulheres e crianças atrás.

Toda a assembleia cantava. Durante a homilia, alguns homens saíam para fumar um cigarrito e quando entravam levavam as barbas chamuscadas e pequenos ataques de tosse.

O padre, depois dos avisos em português lá voltava ao latinório: ite missa est. E a assembleia, já no meio da cerimónia embalava-se em cânticos que enchiam a alma em plenitude ornada de fé. Cantava-se e chorava-se porque os cânticos na missa eram inspiradores e de compaixão a Jesus que sofreu para remissão dos nossos pecados.
Uma igreja pode estar cheia de gente mas sem gente. Neste caso é uma assembleia clandestina de si mesma. Só a palavra de Deus pelo canto pode elevar a alma à consagração da pureza e da felicidade interior.

Mateus, desde 1973 tem um grupo coral. Desde aí passaram por ele centenas de cantores e vários diretores artísticos. Fui bafejado por ter sido o primeiro a formar o coro da paróquia a convite do Monsenhor Fernando Miranda. No Coro Novo atual, dirigido pelo professor Alexandre, ainda pontificam alguns heróis desse tempo e as suas vozes são relíquias sonoras, sons não extinguíveis porque modelados com o fervor da paixão e o diapasão da saudade.

E quando o coro canta, as celebrações litúrgicas ganham novo ânimo. Participar é uma bênção, ao mesmo tempo um retiro espiritual não traduzível por palavras. Depois da missa cantada com êxito no dia 8 de dezembro e perfumado com vozes apaixonadas por Mateus, o coro voltou a mostrar na igreja o seu entusiasmo, a sua generosidade e galhardia, exibindo um cântico de reis da autoria do saudoso Padre, Monsenhor Minhava. Foi um momento de glória que emocionou todos os elementos do grupo levando ao rubro em vibrantes aplausos toda a assembleia.

Que seria de nós sem pessoas desta estirpe que diariamente procuram através da música o reencontro dos corações e o sentido eloquente da vida?

Somos nós que estragamos a nossa vida quando não procuramos o outro e pecamos e continuamos a pecar porque tantas vezes nada fazemos de importante para um vida solidária visando a felicidade alheia. A música é um forte aliado das consciências, uma arte evangelizadora que nos ajuda a amar e a saber perdoar porque os sons cantados com paixão têm esse poder magnético e congregador.

Parabéns a todos os cantores que não param de surpreender pelo seu amor à música e a Mateus. Bem-haja Monsenhor Minhava pelas virtudes humanas, coração que se plasmava na eloquência da palavra e no poder sublime e nobre da música.

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