Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024
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Eduardo Varandas
Eduardo Varandas
Arquiteto. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

O racismo e as raças humanas

A propósito dos recentes incidentes verificados no Bairro Jamaica, na margem sul do Tejo, temos assistido às mais desencontradas opiniões sobre o sucedido, sendo notória em toda a abordagem sobre esta matéria o enfoque na palavra racismo.

De todos os artigos de opinião publicados, e que despertaram a minha atenção, não posso deixar de comentar aquele que foi subscrito por Isabel do Carmo, assumindo a condição de ativista política (ver Público de 9/02/19), e agora rendida às delícias da sociedade burguesa e capitalista, depois de durante o PREC ter sido uma das mais aguerridas defensoras da ditadura do proletariado, à frente das chamadas Brigadas Revolucionárias, vulgo BR.

Intitulando o seu artigo de «Não há raças humanas», a articulista refere que esse conceito surgiu no século XIX, percorrendo todo o século XX e que hoje se mantém. Segundo a opinião desta conhecida figura pública não há raça caucasiana nem raça negra. O que distingue o ser humano é a pigmentação da pele, ou seja, uns têm-na maior e outros menor. E prosseguindo a sua argumentação afirma: «A maior ou menor pigmentação da pele foi seguindo a latitude.

Em África, as populações são mais pigmentadas quanto mais próximas do Equador». Admitindo esta teoria como certa, pergunta-se: porque razão os seres humanos nascidos em África, descendentes de europeus, permanecem com o tom de pele diferente dos designados de negros? Mas, não é só uma questão de pigmentação, tem também que ver com as feições, que são naturalmente diferentes, como se sabe, caso se trata de um negro ou de um branco.

De facto a comunidade científica está dividida sobre este conceito, e a polémica permanece, tendo mesmo a UNESCO, em meados dos anos 50 do século passado, sugerido que o termo raça fosse substituído por grupos étnicos, uma vez que esta conceção tem mais que ver com as dimensões culturais, dentro da população humana, tais como a língua, religião, costumes, hábitos, etc.
Mas, então, se assim é, utilizando uma linguagem simplista que faz todo o sentido, podemos extrapolar: se não há raças humanas não pode haver racismo. A existência de racismo pressupõe a existência de raças humanas. 

Por outro lado, não raras vezes, confunde-se racismo com chamadas de atenção relativamente a certos comportamentos praticados por indivíduos de maior pigmentação, para usar a terminologia de Isabel do Carmo.
Vejamos um pequeno exemplo: se em situações idênticas dois indivíduos, um de maior e outro de menor pigmentação, praticarem atos de vandalismo na via publica e forem detidos pelas autoridades, não tenhamos dúvidas que, no caso do primeiro, o agente de autoridade, que procedeu à sua detenção, corre o risco de ser acusado de racista, como já aconteceu.

Tendo em conta as várias situações ocorridas e a campanha orquestrada por algumas organizações e certas individualidades, em relação à problemática do racismo, é difícil estabelecer uma fronteira a partir da qual se pode considerar o que é ou não um ato racista.

PS: Tive conhecimento que o meu antigo vizinho e companheiro de tantas brincadeiras de infância, o Joaquim Taveira Monteiro, nos deixou no passado dia 14/02. Recordo com saudade a sua habilidade inata para a construção das famosas carretas, uma espécie de carrinhos de rolamentos improvisados, que faziam as nossas delícias. Curvo-me perante a sua memória e apresento as minhas condolências à Mila Ribeiro, sua viúva.

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