Domingo, 8 de Dezembro de 2024
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Eduardo Varandas
Eduardo Varandas
Arquiteto. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

O refazer da história

Há personalidades da nossa vida pública que se comprazem em dizer mal do nosso passado, pondo em causa os feitos gloriosos dos nossos maiores.

Refiro-me concretamente aos artigos de opinião subscritos ultimamente, em vários jornais e muito particularmente a um programa televisivo da autoria dessa figura “conspícua” da vida nacional chamada Fernando Rosas.

Quem já se tenha dado ao cuidado de sintonizar o canal 2 da RTP, aos domingos, às 9horas da noite, ter-se-á apercebido com certeza de ver e ouvir um programa intitulado “História a História África”, da autoria dessa citada figura pública, e de toda a polémica que o envolve, com considerações descontextualizadas da época e do tempo a que o mesmo se refere, entre o final do século XIX até às independências dos antigos territórios ultramarinos portugueses. As críticas debitadas por FR, não merecem credibilidade pela falta de isenção e parcialidade demonstradas em muitos dos vários episódios que já foram exibidos até ao momento. O caso mais gritante teve por protagonista Norton de Matos, estadista que nunca morreu de amores pelo Estado Novo sendo até, por ele, perseguido e ostracizado durante toda a sua vida.

FR escalpeliza negativamente o passado político de NM, como governador-geral e alto-comissário de Angola, sobrevalorizando algumas facetas menos felizes, em detrimento do seu contributo determinante para o desenvolvimento daquele território da costa ocidental africana.

Fernando Rosas, cujo passado político é bem nosso conhecido, desde a sua militância aguerrida no MRPP, nos idos de 75, até à adesão a esse grupo de bem pensantes que dá pelo nome de Bloco de Esquerda, caraterizado por uma amálgama ideológica, agrupando no seu seio estalinistas, trotskistas e maoistas, não consegue libertar-se de uma visão partidária e dicotómica relativamente a uma época marcante da história lusa. Enfatiza demasiadamente os pontos negativos da nossa presença em África, que os houve certamente, desvalorizando o legado civilizacional que várias gerações de portugueses deixaram nos territórios por onde passaram.

Dizer mal do seu próprio país, a pretexto da reposição da verdade histórica sem ter em consideração o contexto da época em que alguns desses episódios infelizmente aconteceram, é uma tontearia e um ato de autoflagelação.

O espantoso disto tudo é assistirmos a esta desfaçatez, com o envolvimento de dinheiros públicos. Como sabemos a realização desta série televisiva acarreta custos consideráveis, relativos a toda a logística associada a viagens e alojamento, para toda a equipa envolvida nas filmagens e aos honorários devidos ao autor. Escusado será dizer que vivendo o operador público de televisão, em parte, à custa do financiamento que todos nós suportamos, através da taxa de audiovisual incluída na fatura de eletricidade, é no mínimo abusivo, para não dizer outra coisa, fomentar este tipo de programas para dizer mal de nós próprios.

Infelizmente há sempre alguém que gosta de refazer a história com este tipo de extrapolações.

PS: Atendendo à quadra natalícia que atravessamos, aproveito para desejar a todos quantos trabalham na VTM e aos seus leitores votos de Boas Festas.

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