Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2024
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O Vagabundo e a morta

Os sinos dobravam a finados e o ar tornava-se quase insuportavelmente frio e agreste… Alguns homens descobriam-se, tirando o chapéu, ao mesmo tempo que inclinavam a cabeça para o chão em sinal de reflexão e oração pela morte da tia Rita do Outeiro. As mulheres, apressadamente, benziam-se trementes de mãos, e os rosários baloiçavam de um lado para o outro ao ritmo dos corações. Os lábios dos mais velhos mexiam-se duros e inflexíveis bradando pela alma daquela velhinha que partira santa para o reino da salvação.

De longe chegava o balir dos cordeiros do Conde, o relinchar dos cavalos do Cigano e o zurrar em surdina de burros que, carregados de sacos de farinha, pareciam protestar com tamanhos carregos, tudo isto misturado em orações pela alma da velhinha, ou com risos pontuais de idiotas que indiferentemente jogavam à bisca na tasca da aldeia.

O Jeremias do Lameiro, de sacho ao ombro e cigarro na boca, chapéu inclinado para trás, senta-se no banco de pedra junto ao fontanário e fala para o ar pensando que o céu o estava a ouvir: “Lá morreu a Rita do Outeiro… fez-lhe Deus uma esmola… aquilo já não era viver…” O Pinotes ao ouvi-lo acrescenta: “disseram–me que

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