Sábado, 7 de Dezembro de 2024
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Ordenação Episcopal: Fé e Cultura

1 – No próximo dia 20, pelas 16 horas, celebrar-se-á na igreja da Senhora da Conceição de Vila Real a Ordenação episcopal do P. Dr. Manuel da Silva Rodrigues Linda, até agora Reitor do Seminário diocesano. É vontade da Igreja que, antes da celebração, se dêem aos fiéis algumas informações de natureza catequética e litúrgica, que trazem consigo séculos de cultura e de fé e ajudam a perceber o ritmo da celebração. Vamos cingir-nos ao mais importante, esclarecendo o conteúdo de vocábulos como bispo, presbítero, diácono, cristão, sacerdote, ordem, hierarquia, presentes na celebração.

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2 – A pessoa baptizada, crismada e assídua à Eucaristia é um cristão completo: nasceu pelo baptismo, cresceu pelo crisma, celebra a eucaristia dominical, irradiando a fé à sua volta.

O sacramento da Ordem não está ligado ao ser cristão, mas ao governo da Igreja. Tanto o sacramento da Ordem como o Matrimónio são só para alguns cristãos, os que assumem a tarefa de governar a Igreja, e os que constituem família cristã. Os três primeiros sacramentos é que dão o estatuto de vida cristã. Convém ter sempre presentes as raízes, porque, se começamos pelo sacramento da Ordem, fica-se com a sensação de que os cristãos leigos são quase um «zero».

 

3 – A Bíblia revela a preocupação constante de Jesus em instruir e converter as multidões, e, paralelamente, uma preocupação especial em escolher e preparar o grupo de doze homens que haviam de governar a Igreja. Jesus chamou-lhes «pastores», «servos» e «enviados» ou «Apóstolos», e não usou as palavras sacerdotes, nem padres, nem bispos. Quando mais tarde os Apóstolos tiveram de organizar a Igreja nas comunidades cristãs e distribuir poderes, foram buscar as palavras e as estruturas à cultura grega e romana e deram-lhes um sentido mais rico e espiritual. S. Paulo, por exemplo, na carta aos Efésios diz que, na Igreja, Deus a uns constituiu Apóstolos, a outros profetas, a outros doutores, a outros deu o poder de curar, em ordem ao bem comum e unidos entre si como membros de um só corpo cuja cabeça é Cristo (Ef 4,11-16).

Este modo de proceder dos Apóstolos fazia parte do poder que Jesus lhes dera para organizarem a Igreja, pois os Apóstolos, fiéis à mensagem de Jesus, não estavam prisioneiros do vocabulário primitivo. As palavras a que recorreram os Apóstolos têm hoje um sentido especial no interior da Igreja.

 

4 – A palavra «bispo» era usada na cultura grega para designar os que «governavam» as cidades, tanto na área militar como na administrativa. Não admira que S. Paulo e outros escritores cristãos que trabalharam nas cidades gregas a utilizassem para designar os pastores responsáveis pelas grandes comunidades cristãs das cidades gregas, verdadeiros sucessores dos próprios Apóstolos. Também usaram a palavra «presbíteros» ou «os mais velhos» para designar aqueles que colaboravam com eles. Quando se diz que presbítero significa o mais «velho» isso não quer dizer necessariamente «idoso», mas «mais adulto», mais seguro na fé. Nas cartas de S. Paulo e de S. Pedro, os termos bispo e presbítero aparecem algumas vezes como sinónimos Mais tarde, no final do século I, sobretudo com S. Inácio de Antioquia, as palavras assumiram tarefas distintas, ficando a palavra bispo para designar os «governantes» das comunidades da cidade, e a palavra «presbítero» para aquele que colabora com o bispo e governa pequenas comunidades. Na vida corrente, usa-se mais a palavra padre e, para aqueles que dirigem uma paróquia, pároco. O padre recebeu o 2º grau do sacramento da Ordem.

O conjunto dos presbíteros forma o «presbitério» cuja cabeça é o bispo; e os bispos formam um «colégio episcopal» cuja cabeça é o Papa

 

5 – Uma outra palavra grega entrou também no vocabulário cristão, a palavra «diácono» que, de si, significava «servidor», pessoa disponível para ajudar o chefe. Foi usada pelos escritores para designar os servidores dedicados, incluindo o próprio Jesus, aquele que vem «servir» o plano de Deus. Diaconia é, literalmente, um serviço, a atitude de generosidade em favor de alguém e de uma boa causa, e aplica-se aos homens que exercem um trabalho específico de pregação, na Eucaristia e na organização das obras de caridade da Igreja.

Portanto, as três palavras – bispo, presbítero e diácono, sobretudo as duas primeiras, – passaram a designar as pessoas que exercem o poder do governo na Igreja, com especial riqueza e conteúdo espiritual. Só os bispos e presbíteros é que são «sacerdotes», pessoas ligadas fundamentalmente ao culto sacrificial, a Eucaristia, ocupando os bispos o primeiro grau do sacerdócio ou pontífices, e os «presbíteros» o segundo ou cooperadores dos bispos. Os diáconos não têm sacerdócio e podem ser casados.

Essas pessoas constituem a «Hierarquia» da Igreja, escalonada em três graus ou «ordens»: ordem dos bispos, ordem dos presbíteros, ordem dos diáconos.

 

6 – A palavra «Ordem» é de origem latina e usava-se na Roma antiga para designar as pessoas incumbidas do governo da sociedade. Sem esse trabalho, a sociedade andaria «desordenada», anárquica. Essa palavra passou a usar-se na Igreja para designar os que exercem o governo. A entrada de uma pessoa no grupo dos governantes da Igreja é delicada e chama-se «ordenação» ou «sacramento da Ordem», que se recebe por etapas ou graus ou «ordens» ordem dos bispos, ordem dos presbíteros, ordem dos diáconos. Por isso se diz que essas pessoas constituem a «Hierarquia» da Igreja, escalonada em três graus ou «ordens.

Dada a origem civil da palavra Ordem, a Igreja tem insistido sempre que é preciso não transformar a «ordenação» em honrarias, mas manter o espírito de «serviço» e de «pastor», como faz a Bíblia.

As palavras «diocese» e «paróquia» não eram usadas no tempo de S. Paulo. Vieram também da administração civil e significam o «espaço» e a «comunidade» confiado a um governador ou bispo, e as comunidades mais pequenas que, em comunhão com o bispo, são confiadas a um presbítero ou pároco.

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