A religião não é só um acto da alma, mas envolve também o corpo e o próprio trabalho, seja ele qual for. Em todas as missas, na apresentação dos dons, essa ligação à terra é oficialmente recordada, disse o senhor Bispo em Calvão no Domingo passado.
Calvão é uma paróquia da região norte de Chaves, situada na margem da estrada que sobe para o santuário de S. Caetano e Montalegre. Tem duas aldeias, a de Calvão e a de Castelões, com uma igreja local. Além da igreja paroquial, bem conservada, ainda que demasiado alta, é na aldeia de Calvão que se situa o santuário da Senhora da Aparecida, muito estimado pela população flaviense.
A população é constituída por cerca de 170 famílias com 400 almas e mil na emigração para os Estados Unidos e para a Europa. Nos últimos seis anos celebraram-se 55 baptismos e outros tantos óbitos, e 17 casamentos, ainda que as crianças voltem com seus pais para o estrangeiro. Por esse motivo, a escola primária fechou, deslocando-se as poucas crianças para Soutelinho da Raia. A casa paroquial está bem conservada e nela reside o pároco. Desde a última visita construiu-se uma sala mortuária numa extremidade do adro, num plano inferior, junto da escada que dá acesso ao mesmo adro.
Como das outras vezes, os fiéis receberam o senhor Bispo junto do cemitério no limite da aldeia, em cuja capela, grande e bem conservada, se fez a oração «com os pés no chão e o pensamento na eternidade, agradecendo o dom da fé que os pais e amigos nos transmitiram». Junto do altar da capela ainda é bem legível a inscrição da sepultura de um pároco natural de Viade, Montalegre, e que ali faleceu em 1872 com 57 anos de idade. O cortejo partiu para a igreja paroquial onde se celebrou a Eucaristia e se crismaram 18 jovens.
Na homilia, feita a partir dos textos do dia, o prelado falou da «religião como expressão do homem todo incluindo o próprio vínculo à terra. Por isso ele leva até Deus o seu coração humano e os frutos da terra. A oferta das primícias lembra esta homenagem do trabalho ao Criador. A religião não é só um acto da alma, mas envolve também o corpo e o próprio trabalho seja ele qual for. Em todas as missas na apresentação dos dons essa ligação é oficialmente recordada. Uma das tentações de hoje é fazer da religião um gesto meramente interior, sem dimensão social, à margem da vida da vida e da comunidade humana, colocando a vida terrena à margem de Deus». Dirigindo- -se aos jovens, lembrou que «o Crisma deve ajudar a analisar a fé recebida de criança, e tomar uma «melhor consciência do que é ser católico, viver unidos à pessoa de Jesus e em comunidade visível, dirigida pelos legítimos pastores».
No final, nas reflexões pastorais, falou da mensagem do Crucifixo enviada pelo Papa para esta Quaresma, comentou os números demográficos da paróquia, e felicitou a freguesia pelo último referendo (114 «não» e 41 «sim»): Entender o compromisso cristão na vida social é hoje uma tarefa essencial de um cristão. Quando os pastores da Igreja, em matéria de moral e costumes, dão orientações claras, devem ser obedecidos. De outro modo, como poderemos rezar o Credo e dizer «creio na Igreja»? Não nos assuste o remoque do mundo chamando-nos serranos e rurais. As questões morais não são questões de geografia, mas de sensibilidade humana e também de fé».
Fez ainda um apelo ao cuidado pelas vocações, pois há quatro padres dali oriundos e dez religiosas.
É pároco o P. António Diogo Martins, ali residente e muito estimado, a quem estão também confiadas as de Seara Velha e de Ardãos, esta já de Boticas.