Há dias prestei a três jornalistas da imprensa escrita e televisiva alguns esclarecimentos sobre a oficialização na diocese das celebrações dos Domingos orientadas por leigos, as oficialmente chamadas «Celebrações dominicais na ausência de Presbítero». Pedi a esses jornalistas que fossem cuidadosos na redacção dessa notícia e concretizei os pontos mais delicados da mesma. Pois aconteceu o que se temia: ou eles ou as respectivas redacções (parece que os títulos das notícias nos jornais e das notas televisivas de rodapé são reservados às redacções) baralharam tudo, dando a entender que há «missas de leigos» e que «estes substituem os padres».
Não me pareceu que na conversa havida comigo existisse má intenção, mas venceu a velha ligeireza ao falar destes assuntos ou o desejo de criar choque em vez de falar da normalidade destas acções da Igreja já legisladas pela Santa Sé desde 1988.
Sabe-se que a Missa ou Eucaristia é uma celebração exclusiva da religião católica e reservada ao Padre ou Bispo. Nem sequer um Diácono a pode celebrar. Os outros actos de culto católico têm nomes próprios (devoções, lausperenes, terço, romarias, peregrinações, vigílias, celebrações e outros). Para falar dos actos de culto das outras religiões usam- -se palavras diferentes destas. Para obviar àqueles e outros deslizes dos jornalistas, o bispo emérito de Beja publicou há anos uma «enciclopédia católica popular» para servir de vademecum aos profissionais da comunicação social menos informados sobre a vida da Igreja católica, e que já teve um segunda edição. Pelos vistos, faz falta a terceira.
A Missa é o acto apropriado para celebrar os Domingos, acto que vem do princípio da Igreja, pois nele se renova de modo sacramental o mistério da Morte e Ressurreição de Cristo. Nas terras onde não seja possível celebrar a Missa, como acontece nos países de missão e agora em terras onde a Igreja está estabelecida mas não há padres em número suficiente, foi autorizado e recomendado que, dentro de certas normas, se organizem «celebrações dominicais na ausência de presbítero».
Cada uma destas palavras tem o seu peso: são celebrações, actos organizados, com leitores, salmistas, um dirigente e um ministro da comunhão, de modo que ultrapassem a mera devoção individual; são dominicais, isto é, o objectivo é celebrar o Domingo e não somente praticar um acto devocional; são actos oficiais, com lugar e hora marcados para serem assembleias abertas; fazem-se na «ausência» física do presbítero mas não à margem dele, antes pelo contrário, em comunhão com o respectivo pároco que enviará o texto da reflexão; o leigo não «preside» (palavra reservada ao ministro ordenado), mas orienta ou dirige a celebração e, nas saudações, fala para a assembleia como um igual, sem poder hierárquico, usando as expressões «O Senhor esteja connosco» e não «convosco», exclusivas do padre.
Para quem tem presente os três elementos do ritmo da Missa, as tais celebrações constarão somente do primeiro e do terceiro, a «Palavra» e a «distribuição da Comunhão», omitindo a «Oração sacrificial» ou anáfora eucarística, desde o Sanctus ao Pai-Nosso.
Todas as pessoas que falaram comigo ou me escreveram acerca da notícia veiculada num jornal do Porto e numa televisão perceberam logo que ali havia gato. Chegamos ao tempo em que os leitores dos meios de comunicação social é que têm de vigiar a capacidade científica dos profissionais dos mesmos.
Joaquim Gonçalves, Bispo de Vila Real