As imagens de violência extrema que poucos de nós imaginavam ser possíveis numa sociedade democrática desenvolvida como a americana, não serão infelizmente circunstanciais: elas assumem-se como o resultado de quatro anos de Trumpismo nos EUA, o “melhor” exemplo do Populismo dos nossos tempos.
Tal como Jair Bolsonaro no Brasil, Trump foi eleito e governou tirando partido das fortes clivagens sociais existentes no eleitorado americano, criticando os políticos, assumindo-se como anti-sistema, mas, acima de tudo, puxando por instintos nacionalistas e xenófobos pouco consentâneos com a sociedade multicultural e multilateral em que vivemos. Destas duas eleições (a de Jair Bolsonaro e de Donald Trump), tendemos a concluir que o Populismo floresce, porque puxa pelos sentimentos mais individualistas do Ser Humano. A verdade é que o Populismo está aí, não só com eleições ganhas (como Donald Trump e Jair Bolsonaro), com resultados muito perto da vitória (como Marie Le Pen em França) e a dar os primeiros passos em várias latitudes, como no nosso país, através de André Ventura.
Constituindo este ressurgimento dos movimentos populistas talvez a primeira grande clivagem política global do Século XXI, importa reflectirmos colectivamente como pode o Mundo Democrático, com toda a sua pluralidade de ideologias, combater o Populismo de hoje, munido de armas como os perfis falsos nas redes sociais, as fake news e, acima de tudo, a cíclica escassez de recursos para redistribuir (talvez a grande falha dos Governos Democráticos dos últimos 30 anos no ocidente).
Para nós a resposta é simples (e não passa pela desvalorização dos populistas ou pela sua ilegalização): o Populismo só poderá ser derrotado se for exposto às suas intermináveis contradições, à sua ausência de sustentação ideológica, à sua incoerência e, acima de tudo, à sua profunda falta de Humanismo. Enfim, o combate ao Populismo, por estranho que pareça, terá de ser feito com recurso à ideologia (como tão bem Bernie Sanders demonstrou no passado), com Humanismo e, acima de tudo, com um desígnio colectivo de esperança.
Quando insistentemente nos perguntam por quem optamos: se por um refugiado que não tem país, família ou um tecto, ou por um cidadão que aufere o salário mínimo, passando todo o seu mês a trabalhar e a fazer a dura aritmética de cumprir todas as suas obrigações, a resposta para um democrata só pode ser uma: não deixar nenhum dos dois para trás. A inclusão das minorias, o acolhimento das vítimas dos conflitos, a dignificação do papel das forças de segurança, a melhoria das condições de vida dos trabalhadores enfim, um melhor e mais digno amanhã, não são desideratos conflituantes.
Se nos pedirem para escolher, rejeitemos em primeiro lugar quem nos quer impor uma escolha. Decisão contrária, abalará a sociedade democrática que a Paz de Vestefália inaugurou e que sucessivamente vem sendo alicerçada até aos nossos dias.