O facto de Portugal ser um dos países da OCDE onde há mais casas não habitadas (cerca de 13% do total das habitações) condiciona também a capacidade de resposta a esta elevada procura.
Por estes motivos, entre 2012 e 2021 existiu um boom no preço das habitações em Portugal. Excluindo os efeitos da inflação, em média, uma habitação em 2021 custava mais 63% do que em 2012. Entre as economias mais pobres da União Europeia, Portugal é o 4.º país onde mais subiram os preços das habitações, apenas superado pela Hungria (84%), Estónia (71%) e República Checa (68%).
No entanto, e para o mesmo período entre os países que viram o preço das suas habitações mais crescer, Portugal é, por larga margem, o país onde o salário médio real líquido menos cresceu (apenas 7%). Na Hungria o salário médio real líquido cresceu 30%, na Estónia 45% e na República Checa 25%. No cômputo geral, apenas a Grécia (-13%), a Espanha (-2%) e Malta (4%) apresentaram crescimentos inferiores do salário médio real líquido, mas o crescimento do preço das habitações foi muito inferior ao verificado em Portugal.
Consequentemente, Portugal tem o maior diferencial (57 pontos percentuais) entre o crescimento do índice do preço das casas e o crescimento do salário médio real líquido, fazendo com que os portugueses tenham sido quem mais poder de compra perdeu para adquirir habitação entre todas as economias equiparáveis na UE. Seguem-se a Hungria (54pp) e a República Checa (43pp).
A aquisição de habitação própria é cada vez mais um desafio para as famílias portuguesas, que se reflete também no aumento dos preços de arrendamento. São vários os obstáculos que condicionam o aumento da oferta de habitação (o que evitaria uma escalada tão acentuada dos preços): atrasos no licenciamento, elevada e complexa carga fiscal, burocracia, falta de mão-de-obra, escassez de terrenos disponíveis, entre outros motivos.