A poucas semanas de assinalarmos os 50 anos do fim do Estado Novo, vale a pena refletirmos sobre a relação dos portugueses com as notícias.
De acordo com o “Digital News Report 2023” (um relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism, com a colaboração do OberCom — Observatório da Comunicação), em Portugal, sensivelmente metade da população não tem interesse por notícias. O relatório afirma que há “uma tendência global” para evitar notícias, não sendo esta evolução um exclusivo de Portugal.
Desde 2015 que o interesse da população portuguesa pelas notícias tem diminuído. Nesse ano, cerca de 70% dos inquiridos afirmou ter interesse por notícias, sendo que em 2019 essa percentagem já tinha baixado para 61%. Em 2023 ficou-se pelos 52%.
Em todas as fontes de notícias tem havido uma diminuição do interesse dos portugueses, embora em maior escala na imprensa escrita. Em 2015, 47% dos inquiridos tinham acesso a notícias através dessa fonte, ao passo que em 2023 eram apenas 21%. Nas plataformas online, incluindo redes sociais, essa percentagem baixou de 86% para 74% e a TV baixou de 85% para 68%. Se considerarmos apenas as redes sociais, houve uma redução de 61% para 50%.
No entanto, Portugal continua a ser um dos mercados mais bem classificados em termos de confiança nas notícias (3.º em 46 países), devido à “baixa polarização política e a uma sensação generalizada de que a imprensa é livre”. Outro dado interessante do relatório é que apenas 11% dos portugueses paga por notícias online, uma das percentagens mais baixas entre os países analisados, talvez reflexo das fragilidades económicas do país e baixos salários.
A queda no interesse por notícias pode conduzir no aumento da desinformação e na criação de um contexto fértil para um maior populismo. A liberdade de informação é uma âncora de uma democracia e devemos nestes 50 anos do 25 de Abril preservá-la e consolidá-la.