Cerca de meio milhar de agricultores transmontanos, a grande maioria produtores de leite e carne, vão hoje até à Póvoa de Varzim exigir medidas urgentes para um sector que corre o risco de sucumbir, calculando-se já que “30 por cento das sete mil explorações leiteiras do continente” estejam em situação de pré-falência.
Os transmontanos vão unir-se aos protestos de centenas de agricultores da região do Entre Douro e Minho, concentrando-se frente às instalações da Associação dos Produtores de Leite e Carne, para depois desfilarem, com máquinas agrícolas, ao longo de três a quatro quilómetros da Estrada Nacional 206.
Mário Abreu Lima, vice-presidente da Confederação de Agricultores de Portugal (CAP), explicou, ao Nosso Jornal, que a manifestação, para além de representar o sentimento de preocupação perante “problemáticas que são transversais aos vários sectores da agricultura”, como a falta de investimento, o atraso na entrega das ajudas comunitárias e a baixa dos preços dos produtos, vai centrar-se sobretudo, na situação “desesperante” vivida no sector do leite e da carne.
Para além da redução dos preços da compra do leite ao produtor, o mesmo responsável sublinhou a questão da obrigatoriedade do licenciamento das explorações pecuárias que, a seguir os trâmites exigidos agora pelo Governo vão implicar “investimentos profundos” aos quais os produtores não vão conseguir responder.
Toda a problemática burocrática que dificulta o desenvolvimento do sector e cujas resoluções são agora reivindicadas, como o alargamento dos prazos actuais da linha de desendividamento com juro bonificado recentemente aprovada em Conselho de Ministros, bem como a concretização dos contratos relativos aos projectos já aprovados no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (Proder), aliadas a redução dos preços da carne e do leite, “pode levar a que grande parte dos produtores abandone a suas explorações”, advertiu Mário Abreu Lima.
O mesmo responsável focou um sector em especial que afecta as zonas de montanha, a produção de leite de caprinos. “Foram dadas ajudas para o sector do leite dos ovinos, mas não para o dos caprinos”, explicou o dirigente da CAP, sublinhado que “não se entende como um sector tão específico não é apoiado”.
Em comunicado, a CAP questiona como será possível que o Ministro da Agricultura aceite “pacificamente que 30 por cento de todos os produtores de leite nacionais estejam à beira da falência sem que nada seja feito”. “A única medida que o Governo preconiza para o abandono da actividade agrícola é o lançamento de um novo imposto que penalizará aqueles agricultores que, não tendo condições para continuar a produzir, tiveram de encerrar a actividade”, sublinham os dirigentes da Confederação de Agricultores.