Os deputados frisam que “a Assembleia da República também deve contribuir para a preservação da memória coletiva do povo português” e que “a participação de Portugal na Grande Guerra de 1914-1918 foi um fenómeno de enorme relevância nacional”.
Os parlamentares do PS eleitos pelo círculo de Vila Real, Ascenso Simões e Francisco Rocha, contribuíram e subscreveram esta iniciativa, uma vez que, dizem, é da “mais elementar justiça” que estas personalidades não sejam esquecidas.
“Entre 2014 e 2018, a Assembleia da República promoveu diversificadas evocações do centenário da Grande Guerra, num contributo ativo e valioso para o esclarecimento público e para a consagração da memória nacional em torno deste conflito na sua frente europeia da Flandres e nos teatros africanos do sul de Angola e do norte de Moçambique, territórios fronteiros das colónias alemãs”, recordam.
Os parlamentares socialistas lembram que estas evocações foram feitas “de formas diversas e plurais, debatendo e aprovando votos e iniciativas legislativas”, e também “prestando concurso para conferências e exposições memorialistas e ainda patrocinando publicações sobre esta temática”.
Segundo os deputados do PS, “cabe à Assembleia da República consagrar, em nome e para honra do parlamentarismo português, os nomes dos três ilustres parlamentares que sacrificaram a vida no decurso de combates”, agora que se está a aproximar o fim das evocações da Grande Guerra.
Assim, o Grupo Parlamentar do PS evoca a memória do capitão de infantaria João Francisco de Sousa, senador da República eleito em 1915 pelo círculo de Ponta Delgada, do major de artilharia José Afonso Palla, “ilustre republicano e herói do movimento revolucionário de 5 de outubro de 1910”, deputado à Assembleia Nacional Constituinte em 1911 e reeleito deputado em 1915 pelo círculo de Lisboa, e do primeiro-tenente da Marinha José Botelho de Carvalho Araújo, deputado à Assembleia Nacional Constituinte e reeleito deputado ao Congresso da República em 1915.
Um dos heróis mais consensuais
Carvalho Araújo, cujo centenário da morte se assinalou em outubro passado em Vila Real, protagonizou um dos mais importantes combates da Marinha Portuguesa. O combate deu-se quando o navio que comandava escoltava o paquete San Miguel e foi atacado por um submarino alemão, o U139, comandado por von Arnauld de la Perière, durante o percurso do Funchal para Ponta Delgada.
O comandante Carvalho Araújo garantiu a fuga e sobrevivência de todos os tripulantes e passageiros do San Miguel, mais de duzentas pessoas, mas acabou por morrer em combate, com apenas 37 anos, a 14 de outubro de 1918, um mês antes do fim da Primeira Guerra Mundial.
Já em outubro do ano passado, o PS apresentou um voto de saudação em memória da tripulação do NRP Augusto de Castilho e do seu comandante Carvalho Araújo, aprovado por unanimidade. “Carvalho Araújo morreu em ação militar, juntamente com mais cinco tripulantes do ‘Augusto de Castilho’, mas foi o seu sacrifício supremo que permitiu que os passageiros do ‘San Miguel’ chegassem a Ponta Delgada sãos e salvos”, lembravam então os socialistas no voto, considerando-o “um dos heróis mais consensuais do nosso séc. XX, porque o seu ato é heroico e de algum modo vitorioso, porque alcançou o seu objetivo que, de certa forma, reparava Portugal do trauma de La Lys, acontecido uns meses antes”. Para além da carreira na Marinha, Carvalho Araújo distinguiu-se na ação cívica e política. Republicano de referência, foi eleito por duas vezes deputado (à Assembleia Nacional Constituinte de 1911 e posteriormente ao Congresso da República Portuguesa).