Dou alguns exemplos. É certo e sabido que o nosso país tem cronicamente dois milhões de pobres ou de pessoas que vivem no limiar da pobreza. Alguns até afiançam que serão mais e que se não fossem os apoios e os subsídios do Estado teríamos perto de quatro milhões de pessoas a viver no limiar da pobreza. Mas, por outro lado, ouço todos os dias lamentos de empresários dos vários setores económicos pela falta de mão de obra. É legítimo perguntar: quantos destes pobres querem sair da sua pobreza? Não faltam ofertas de trabalho. Portugal tem tantos pobres, mas é preciso vir a imigração de fora fazer muita coisa que muitos portugueses não querem fazer. Quantos dos ditos pobres não o podem fazer? Não tenham pressa em me acusar de populismo ou demagogia. Sei que há pessoas mesmo pobres, por doença, velhice, abandono e invalidez, que precisam de ajuda e acompanhamento. Mas também sei que há muito falso pobre e que há muitos que fazem muito pouco pela sua pobreza. Pelo que se ouve, não falta trabalho para quem queira trabalhar e levar uma vida minimamente digna.
Nos últimos meses, assistimos a esta onda de protesto e contestação de várias corporações e setores económicos, pedindo o aumento dos salários, melhores condições de trabalho e apoios para as suas atividades económicas. Certamente que muitas destas queixas são justas e poderão estar a acontecer injustiças, não ponho isso em causa, mas ao mesmo tempo leio na imprensa que muitos portugueses vão bater um novo record de viagens durante o ano, já considerado um bem essencial, leio na imprensa que quando vem o Natal e a Páscoa um bom número de portugueses vai passar férias para a neve ou para lugares ditos paradisíacos, os níveis de consumo começam a caminhar para níveis anteriores à pandemia, por todo o lado vejo iniciativas de lazer, não faltam eventos de jipes, carros antigos, ralis, motas e bicicletas, num repentino dia de sol as praias são imediatamente invadidas por uma multidão.
Deixo bem claro que não sou contra estas coisas. Só não entendo é tanta lamúria e tanto clamor na rua, e depois tanto consumismo e diversão na vida das pessoas. Seremos um país esquizofrénico? Não sei. Desculpem ser impopular.