A Quaresma é um período de preparação para a Páscoa, “a maior das solenidades”, pois actualiza o acontecimento culminante da História da Salvação.
Já no século IV esse período se fixou em quarenta dias, número rico de simbolismo, a que estão ligados os grandes acontecimentos e encontros decisivos do homem com Deus. Esse número exprime a totalidade da nossa vida.
É tempo de nos decidirmos por Deus contra o pecado. Depois que Jesus Cristo veio e triunfou sobre o mal, temos a certeza de que com Ele triunfaremos também nessa luta. A Quaresma é tempo favorável para renovarmos a nossa fé no Deus da salvação, que enviou Jesus Cristo a restaurar o plano de amor e felicidade, destruído pelo primeiro Adão.
Numa leitura do primeiro domingo da Quaresma há uma profissão de fé do povo de Deus, expresso na oferta dos primeiros frutos da terra. As primícias eram colocadas diante do altar, e proferiam as seguintes palavras: “Meu pai era um arameu errante, que viveu no Egipto como estrangeiro até o povo, que era pequeno, se tornar uma grande nação. Os egípcios maltrataram-nos e tornaram-nos escravos. Mas nós invocámos o Senhor dos nossos pais que ouviu a nossa voz, viu a nossa grande miséria. Fez-nos sair do Egipto com mão poderosa, sinais e prodígios. Conduziu-nos a esta terra, onde corre leite e mel, e agora vimos trazer as primícias que nos destes, Senhor”.
O povo reconhece que tudo vem de Deus: a terra que cultiva e a energia necessária para a cultivar. Este gesto tem uma dimensão religiosa profunda. É uma autêntica profissão de fé.
O homem de hoje, que se considera enganosamente moderno, esqueceu Deus, faz sua profissão de fé no homem, na técnica, na sua própria capacidade e energia, nas coisas materiais, com o selo da transitoriedade. Estamos emersos num mundo pobre, miserável, enterrado no mal. Rejeita-se Deus. Para onde caminhamos assim? Para o vácuo, o niilismo, numa caminhada desesperada e que nos dá a sensação de que nunca mais termina. É uma vida sem sentido.
A Quaresma é tempo de ouvir a palavra de Jesus e da liturgia, na quarta-feira de Cinzas: “Arrepende-te e acredita no Evangelho”. É um convite a colocar o evangelho no centro da vida e nos deixarmos conduzir pela sua palavra. Nela encontraremos o verdadeiro rosto de Deus e o perfil da pessoa humana que somos chamados a realizar. O evangelho ilumina o nosso coração para conhecer a nossa fragilidade e a nossa pobreza e nos convertermos ao amor, ao serviço e à esperança. Aprofundemos a nossa atitude de oração e participemos mais frequentemente na celebração da Eucaristia não só aos domingos mas noutros dias. (Mensagem Quaresmal 2007,de D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém).
Na sua mensagem para a Quaresma, Bento XVI afirma: “No caminho quaresmal, recordando o nosso baptismo, somos exortados a sair de nós próprios e a abrir-nos, num abandono confiante, ao abraço misericordioso do Pai” (S. João Crisóstomo, Catequeses 3, 14 ss.). E faz um convite: “Vivamos a Quaresma acolhendo o amor de Deus, aprendamos a difundi-lo à nossa volta com todos os gestos e palavras. Abramos o nosso coração aos outros reconhecendo as feridas provocadas à dignidade do ser humano; impulsionar-nos-á sobretudo, a combater qualquer forma de desprezo da vida, de exploração da pessoa e a aliviar os dramas da solidão e do abandono de tantas pessoas. Estamos num mundo em que o respeito pela vida foi apanágio do povo português e duma Europa cristã na cultura e na vida. Mas hoje, assistimos ainda há pouco ao referendo ao aborto, em que alguns conseguiram o que pretendiam que era a liberalização do aborto. Isto num país que foi dos primeiros a abolir a pena de morte! Também a ONU está fazendo críticas às salas de chuto (para drogados) que estão no plano do governo português a instalar em mais aldeias, e que favorecem a expansão da droga. São necessárias medidas para curar as vítimas e erradicar este mal de que enferma grande parte a sociedade hodierna e, criar meios que favoreçam sua continuação e divulgação do meganegócio que destrói tantas vidas preciosas. Um drogado é um doente permanente e muitas vezes incurável.
A oração liga-nos a Deus, que nos criou à sua imagem e semelhança. Na Quaresma deve ser mais intensa. Vimos de Deus e para Ele caminhamos. Deve atingir todos os nossos actos, na dimensão da vontade de Deus, no respeito pela vida e pelos irmãos sobretudo em dificuldade.