“Numa altura em que ainda não se conhece o resultado da avaliação do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e do Plano de Lavra para a exploração de lítio na Mina do Barroso, o posicionamento por parte da Galp neste projeto de mineração faz levantar a suspeita de que já estará decidida a aprovação da Mina de Covas do Barroso”, destacou a Quercus, em comunicado a que a Lusa teve hoje acesso, considerando “preocupante a participação da Galp na exploração da mina”.
A Galp vai adquirir 10% do projeto de exploração de lítio da Mina do Barroso, em Boticas, distrito de Vila Real, por 6,4 milhões de dólares (5,26 milhões de euros), segundo um acordo assinado com a Savannah Resources divulgado na terça-feira.
No comunicado enviado à bolsa de Londres, a empresa mineira britânica referia que o valor investido “vai ser usado para dar continuidade aos trabalhos com vista ao estudo definitivo de viabilidade [‘Definitive Feasibility Study ("DFS")] do projeto, após as devidas autorizações e a conclusão dos acordos definitivos com vista à parceria”.
A associação ambientalista considera que “ao constatar-se o elevado investimento por parte da Galp no projeto de mineração de lítio em Covas do Barroso” se está perante “a revelação de uma garantia oculta de aprovação do projeto”.
“Acresce a esta informação a suposta intenção da Galp de transformar a sua infraestrutura em Matosinhos numa unidade de transformação de mineração, ou mais concretamente de lítio”, acrescenta.
A Quercus refere que “o atual procedimento de avaliação do EIA da mina de lítio de Covas do Barroso encontra-se desacreditado”, e exige “que este projeto de mineração seja integrado numa Avaliação Ambiental Estratégica que oriente a política de exploração mineira do país”.
“É importante relembrar que a mina de lítio de Covas do Barroso integra uma área de Património Agrícola Mundial designada pela [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura] FAO, pelo que os impactes desta eventual exploração não se resumem apenas ao setor ambiental, mas podem igualmente estender-se ao setor da agricultura”, alerta ainda.
A associação aponta também que este processo tem “óbvias semelhanças ao de aprovação do Estudo de Impacte Ambiental (EIA) do Aeroporto do Montijo (assinatura de acordos e contratos previamente à aprovação do EIA)”.
“Traz de novo a forte sensação de que tudo já está decidido, desacreditando deste modo o procedimento de avaliação do EIA, bem como o próprio EIA”, realça.
Em maio de 2017, a Savannah adquiriu a Slipstream Resources Portugal, onde se incluem as concessões de lítio da empresa em Portugal, para desenvolver o projeto mineiro na região do Barroso, no concelho de Boticas, detendo a Mina do Barroso a 100% desde junho de 2019.
Com um investimento total estimado na ordem dos 110 milhões de euros e a criação prevista de 215 empregos diretos e 500/600 indiretos, o projeto de exploração de lítio em Boticas aguarda ainda decisão quanto à avaliação de impacte ambiental, mas tem vindo a ser contestado pela população local que criou a Associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso (UDCB) para lutar contra a mina.