Desse Marão… montanha de granito e de sonhos. Sob os céus que a cobrem não se avistam as aves que, nas suas migrações, rumam ora a norte, ora a sul, mas sempre, sempre, em busca da Vida. Dos seus cumes, também não se ouve o rumor das ondas desse mar imenso que, também ele, dá Vida a milhões de seres.
Não se alcançam aquelas, nem se escutam estas.
Mas vêm-se as “silhuetas do Marão”, que ela vislumbrou ao longe, da sua terra natal (Abaças) quando os seus olhitos ainda mal distinguiam a noite do dia.
Essa imagem haveria de moldar a sua alma, de modo que nelas – nessas silhuetas – implantou a sua Pedra Filosofal, que ao longo da vida lhe avivava as saudades da sua terra, quando de férias viajava por países distantes; lhe engrandecia a dedicação ao estudo e o amor incomensurável à família, mormente ao marido e filho. Sob a policromia do arvoredo que na época outonal cobre essas “silhuetas” encontrava a “sorte”para mitigar a rigidez imposta pelos prazos processuais.
Não admira, pois, que tenha convertido as “silhuetas” no seu paraíso terrestre.
Só que o Elixir da Vida na sua trajetória inexorável, foi impotente para neutralizar a moléstia que a vinha minando desde há alguns anos e, por isso, teve que partir; teve que trocar o seu paraíso terrestre pelo paraíso Celeste, onde já está na companhia dos Anjos.
– Assim nasceu, assim viveu; e assim morreu a Drª Margarida Gaspar.
Partiu sem conhecer a velhice, mas fruto da sua inteligência e qualidades de trabalho, ainda teve mais que tempo para cursar Direito em Coimbra com classificação acima da média e de exercer funções docentes na UTAD, nas poucas horas que lhe restavam livres.
Enveredou pela advocacia, cuja atividade exerceu ao longo de anos com saber e aprumo, defendendo sempre com inexcedível zelo os interesses que lhe eram confiados, qualidades que suscitaram em nós, na qualidade de magistrado judicial, grande e respeitosa admiração. Dotada de uma clarividência notável e de uma dedicação profícua ao estudo, ganhou a notoriedade de uma advogada brilhante.
Porém, esfumou-se o “ serão” e as “ encostas do Marão” deixaram de contemplá-la.
Agora, pouco importa, o voo das aves, o fragor das ondas ou o colorido das árvores.
Agora, já lá vão as horas alegres e felizes em que o seu marido e colega de profissão, a tratava carinhosamente “ por minha rapariga”.
Agora, vêm as saudades. E que serão muitas. Para ele e para a família.
E para os amigos também.