Não havia evento ou aparição pública onde não se fizesse a devida vénia a tão talentosas figuras nacionais. Depois do colapso do banco BES e de outros bancos e da descoberta das várias teias que se teceram durante alguns governos, qual não é a nossa surpresa, afinal, grande parte desta gente fez parte de jogos de poder, de compadrio e de corrupção, foi mestra em enriquecer com burlas, malfeitorias e trapaças, usando e abusando das falhas e inconsistências da lei, escondendo-se atrás de instituições, associações e fundações. Para tudo acabar em beleza, ainda foram condecorados pelo Presidente da República. Dá para rir, mas a fatura saiu-nos muito cara.
A rir andou muita desta gente, sentindo-se abençoada pela deusa impunidade e pela languidez dos brandos portugueses. Era de desconfiar que a bazófia e a chico-espertice de uns quantos andava à solta, habilidosos em rodopiar a lei e em fazerem bons arranjinhos com o Estado, que fica sempre com as faturas e os prejuízos.
Bem podemos agora cravá-los de impropérios e sujeitá-los ao vexame público, mas perguntemo-nos o que fizemos àqueles que questionavam os cantos de sereia que se propagandeavam sobre a alta competência de toda esta gente, onde é que andava o jornalismo de investigação, qual foi o escrutínio sério que o parlamento fez sobre as inquestionáveis manobras que se faziam diante dos seus olhos, sabendo-se que as elites partidárias incensavam estas grandes personalidades dos negócios, quem é que se importou em saber a urdidura dos muitos contratos e acordos que foram assinados no momento, segundo se ouvia, para dar robustez à economia portuguesa.
Temos em Portugal um bom número de empresários e negociadores que só vivem para a sua jactância e para o seu enriquecimento fácil, revestidos de mediocridade moral, pouco lhes importando o desenvolvimento e o crescimento do país, a criação de emprego e o bem-estar dos outros cidadãos, empresários que só vivem para o ter dinheiro, de preferência com pouco trabalho, com pouca vontade em liderar bons projetos empresariais, enriquecedores para o país.