Ao longo do texto o Papa cita vários documentos dos seus antecessores relativos a problemas da mesma área e retoma ideias já expostas na sua encíclica «A Verdade na Caridade».
Uma primeira nota a fixar é a linguagem do Papa: rigorosa e teológica dando às questões sociais uma profunda base doutrinal. O Papa usa o termo «Criação» e não «natureza», recuperando a dimensão religiosa ao Universo. Os cristãos viram sempre o mundo como «criação», como obra de Deus, o berço do homem, de todo o homem do passado, do presente e do futuro, e em si mesma uma «linguagem» do plano de Deus a respeito do homem. O respeito pela Criação torna-se deste modo uma homenagem ao Criador. O termo «natureza» aplicado à terra vem a ser usado depois do Renascimento, tomando a terra como base de trabalho e fonte de rendimentos, sem ir mais atrás, sem o vínculo a Deus. A linguagem que define a terra como «fruto da evolução» acentua essa desligação da pergunta pela Criação, uma espécie de decapitação do Universo, e coloca tudo nas mãos do homem, facilitando a tendência para o abuso. O discurso do Papa é, em si mesmo, uma evangelização da cultura.
Nos aspectos sociais, o Papa afirma que a questão ecológica não se reduz a uma «questão do ambiente, mas é uma questão abrangente, cósmica, envolve a «ecologia humana» a «ecologia terrestre». Isto é, os problemas que o mundo sente na actualidade são insolúveis enquanto o homem não mudar de ideias, de esquemas culturais, políticos e éticos. Isso ficou patente na assembleia de Copenhaga: todos estão de acordo em reconhecer os abusos que a industrialização vem a cometer na atmosfera, nas correntes de água, na delapidação sistemática das florestas, dos mares, e na qualidade de vida dos cidadãos. E, todavia, não avançam em decisões práticas quanto à desertificação, a deterioração dos solos, à improdutividade da terra, à marginalização da agricultura sobretudo nos países pobres, no aumento das calamidades naturais, na desflorestação das áreas tropicais, na delapidação dos recursos energéticos, da exploração das riquezas naturais dos solos dos países pobres, do petróleo e de outras fontes de energia, porque o egoísmo, os interesses, as desconfianças, tudo bloqueiam. Há uma poluição do coração, da inteligência e da cultura que impede de ver claro e de trabalhar com lealdade.
Na encíclica «Verdade na Caridade», o Papa estende o problema da ecologia à sexualidade humana que faz parte do universo, e diz que a ela se estende cada vez mais aquela mentalidade poluidora a destruidora: a exploração sexual dos povos pobres condicionando a sua ajuda médica dos ricos à aceitação dos mecanismos anticonceptivos e abortivos das áreas industrializadas, a eutanásia, o aborto, os casamentos homossexuais, a fecundação artificial e o consequente negócio de embriões humanos.
«A humanidade tem necessidade de uma profunda renovação cultural, precisa de redescobrir aqueles valores que constituem o alicerce firme sobre o qual se pode construir um mundo melhor para todos», conclui o Papa.