Domingo, 8 de Setembro de 2024
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Sente-se! Ah! E leia-me!

Imagine-se a audácia!
Dou uns passos em direção ao mais pontífice local de informação, replico a ânsia contida e dou por mim a contemplar. Hoje em dia, faz falta contemplar e eu, assim que o vi, contemplei. Encantada, diga-se. 

Lá está ele, ali, sentadinho (que remédio!), todo produzido, ousado, virado para todos e ignorado por muitos (a maioria, na verdade). 

De tantos encantos, nem sei urgir por um em primeira instância. Custa-se-me. 

Veja-se a dificuldade!

Em letras todas elas engarrafadas esbranquiçadas num fundo vermelho carregado, está a designação de um cenário repleto de mundos e fundos, num papel ligeiramente enrugado. Apresenta-se todo ele de forma colorida, não fossem essas as medidas que enchem quem ele quer agradar, aliciar. Antes não tivesses tu tal obrigação hoje em dia, não é verdade? Enfim, mudam-se os tempos, mudam-se as estéticas! Em ti cabem as mais diversas cores, nomeadamente: o verde do lado direito, depois mostras o amarelo normalmente numa coluna, o azul ainda que de vez em quando, mas também o laranja. És como as cores das vinhas em época de rescaldo de vindimas – uma panóplia que te favorece. 

Sinta-se! E cheire. 

Peguei em ti, levei-te comigo para um canto, enquanto acenava ao senhor do estaminé e lhe murmurei:

– Era um café, se faz favor. 

E sentei-me. Ali estava eu, pronta para ler ‘A voz de Trás os Montes’, o jornal de Vila Real. Senti-lhe a textura nos dedos, mergulhando de vez em quando o indicador, como forma de prosseguir a minha curiosidade. Quase me sentira uma inqualificável e indecifrável intelectual do século do Iluminismo! Que poder hegemónico senti eu em poder ter em mãos toda a informação regional – e não só. 

Na terceira página, onde normalmente se encontra o editorial de opinião, vasculhei pelos textos e encontrei esta crónica, que acaba de ler, realizada por mim, pela pessoa que acaba de se sentar para ler este jornal, esta específica página, mas também as restantes. Saiba que penso em como reagirá ao ler estas palavras e que entenda que a poucos me dirijo em formato físico, porque já é rara a pessoa que pega num jornal e lhe oferece uma dedicação demorada. 

Parece danoso e descabido, talvez insano, porém, tem dias que me apetece chegar ao café e ouvir alguém dizer-me: “A menina ainda vai demorar muito a ler?” 
Como se a ânsia informativa não pudesse esperar. Mas iludo-me. E muito.

Mas, já que aqui está, que tal beber o seu café e prosseguir na leitura deste jornal? Junte-se, informe-se, beba e sinta a cafeína acomodar-se na boca, e saiba que a vida é esta simplicidade que nos aconchega. 

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