Daí, o encontrarmos parábolas, alegorias ou fábulas em muitos escritos. Autores houve que se especializaram no seu uso. Encontram-se na literatura clássica, mas percorreram todas as épocas literárias. A Bíblia também recorre a figuras de estilo para transmitir uma mensagem ou reforçar um pensamento. A epígrafe deste Visto é uma das parábolas que ali podemos encontrar – Mateus 13: 24-44. Assim: «Assemelha-se o reino dos céus a um homem que semeia uma bela semente no seu campo. Enquanto dormem os homens, veio o inimigo dele: semeou joio no meio do trigo e foi-se embora» (tradução do grego de Frederico Lourenço, 2ª ed. 2018).
Ocorreu-me esta parábola, lendo nos jornais e em redes sociais algumas afirmações sobre o crescimento, em várias partes do mundo – também por cá e pela Europa – das ideologias populistas de extrema-direita e da atitude que, perante elas, se deve tomar, desde o deixa correr até aos que defendem o seu combate por todas as formas. É famosa a frase de Winston Churchill: «A democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela». Não ignorava as fragilidades da democracia, mas reafirmava as suas virtualidades e vantagens perante qualquer outro sistema político. Na História aprendemos que alguns ditadores chegaram ao poder servindo-se da democracia. Afinal, o Primeiro-ministro da Hungria também seguiu esse caminho e a sua governação em nada abona em seu favor. Recentemente, em pleno estado de emergência, fez um conjunto de propostas ao Parlamento que, se obtiverem aprovação, atentam contra o Estado de direito e os direitos humanos, minando a própria democracia.
Pois por cá também há quem dedique muita pouca atenção aos direitos dos outros – dos que beneficiam do Rendimento Social de Inserção, das minorias, dos imigrantes e, com linguagem demagógica, puxando pelas emoções, mentindo muitas vezes, se afirmam contra o sistema, apelando sistematicamente à rutura. Procuram o poder a todo o custo, como se pode ver no acordo de governo nos Açores. O pior é que arrastam partidos que foram essenciais para a consolidação democrática quando os capitães de Abril derrubaram uma ditadura de 48 anos. Por isso mesmo é que considero que não se pode esperar que o joio cresça com o trigo para o separar mais tarde. Sob pena de o joio crescer tanto que aniquile totalmente o trigo.