Parece há muito tempo mas para o Senhor José Frutuoso é ainda presente. O 30 de Maio de 1937 faz parte da sua vida, de homem, de pai de família, de cristão e de sacristão.
Nascido a vinte e dois de Maio de 1921, marido há sessenta e cinco anos, com dois filhos vivos, avô de mais de uma dúzia e outros tantos bisnetos e com largas possibilidades de tetranetos é assim aquele que nesta data completa setenta anos ao serviço da Igreja da Paróquia de Santa Marinha, Freguesia de Vila Marim.
Tinha ele, nessa altura, 17 anos quando o sacristão que então servia a igreja, em seu cunhado, também bastante novo perdeu a vida numa rixa. Convidado pelo Senhor Padre José para começar a fazer o trabalho de sacristão, o seu primeiro trabalho foi um funeral no fundo de Agarez.
Parece insólito mas, setenta anos depois o Senhor José continua a servir a Igreja, também hoje 30 de Maio mas de 2007, agora num funeral só que não é de Agarez mas de Quintela. Já não têm conta os funerais em que exerceu a função de sacristão e mercê de muitas outras actividades e bom relacionamento com toda a comunidade que Ele viu crescer e desenvolver, é capaz de fazer o registo de óbito sem a ajuda do boletim, de tal modo ele conhece todos os fregueses.
Vários padres passaram pela freguesia: – ele é que não muda. Desde o primeiro o Padre José, passando pelo padre Vilela, que ambos o Senhor já chamou para Si. Até outros ainda vivos, o Padre Mota, que entre outras obras fez a ligação por estrada entre Vila Marim e Agarez e a residência paroquial hoje ao serviço das actividades paroquias, sobretudo reuniões e catequeses; entretanto, esteve o Senhor Padre Norberto Portelinha, depois, por um mês ou dois, a paróquia foi assistida pelo Padre Linda que era pároco de Lordelo;
Veio, depois, o padre João Parente que enquanto saiu por algum tempo foi a paróquia assistida pelos Monsenhores Sarmento e Minhava, vindo, depois, o padre Manuel Machado e agora o padre Horácio.
Perguntado se alguma vez teve algum problema com algum padre já que todos são diferentes, prontamente respondeu: “Não tenho que dizer de nenhum “.
Passei por muitas mudanças, continua: “A igreja está muito diferente do que era então, e nós igreja também mudámos muito. Eu comecei a ajudar à missa em Latim, como o senhor Padre Zé me ensinou. Era o padre que decidia o que devia fazer, nós íamos com ele. A nossa igreja estava muito diferente já teve as sepulturas à vista, o Padre Mota soalhou por cima, veio o padre João pôs de novo os taburnos à vista. Era caso para dizer tudo muda só o sacristão é que não. Os santos “são quase todos da minha idade “ alguns mais novos. O São José, que já quiseram levar daqui, é mesmo da minha idade, custou 300$00 e lembra-me ir comprar a cruz paroquial… “
“Além disso tive outras responsabilidades na comunidade, fui mordomo uns sete anos seguidos. Era encarregado de receber a côngrua em toda a Freguesia. O pessoal conhecia-me e eu também os conhecia a eles. Havia rol mas eu conhecia-os a todos “.
De facto ainda hoje faz os registos de óbitos directamente. E é o primeiro a dizer às pessoas: “o teu pai faz um mês, faz agora anos, não queres mandar rezar a missa… “
O povo de Vila Marim era muito generoso só me lembra uma vez o padre Mota dizer que não fazia o funeral de uma pessoa de setenta anos porque ela não tinha pago a côngrua.
“Eu era alfaiate. Tinha os meus clientes, que eu estimava, mas às vezes tinha que os deixar para ir fazer o serviço da Igreja. Um funeral de Arnal, quando não havia estrada nem ponte, levava-nos quase o dia. O féretro era trazido aos ombros e assim era passado nas poldras do rio. Eram uns com o morto às costas e outras, as senhoras amigas ou contratadas, com a merenda, o almoço à cabeça para os que vinham com o morto às costas. Só muito mais tarde é que começaram as agências funerárias”.
Não se pensa em substituir ninguém, pois todos somos substituíveis e ao mesmo tempo insubstituíveis. Que haja muitas e Santas Vocações para Sacristão.
Agradecemos ao Senhor José o trabalho que tem prestado a esta comunidade e pedimos a Deus que o continue a abençoar.
Padre Horácio Botelho Pereira