Todos os anos, um grupo de vila-realenses reúne-se para, no alto da Serra do Marão, receber o Verão ‘de braços abertos’ e em plena comunhão com a natureza. Este ano não foi diferente, cerca de 30 pessoas foram, na madrugada do dia 21, até à Senhora da Serra numa iniciativa que António Martinho, presidente da Entidade Regional de Turismo do Douro (ERTD), considera ter potencial para ser mais um atractivo turístico para a região.
A viagem começou pelas 4h30 da manhã, altura em que aos anfitriões, que anualmente fazem questão de dar “as boas-vindas ao Verão”, juntaram-se os representantes das entidades convidadas pela Turismo do Douro para testemunhar o primeiro nascer do sol da nova estação.
Para além de assistir à transformação gradual “da penumbra da noite em horizonte vermelho do sol escondido e, finalmente, no sol em toda a sua essência”, os participantes desta primeira “experiência” turística foram convidados a participar num ritual ancestral, lavar sete vezes as mãos em água colhida de sete fontes e ‘alimentada’ com flores, urze, alecrim e outras plantas. “Hoje festejamos a plenitude das forças, o tempo da colheita das ervas mágicas e medicinais, a tradição dos banhos nas fontes, poços e riachos, como simbolismo do baptismo primordial, da limpeza interna e externa. Com efeito, as águas das noites do Solstício são mágicas e poderosas e benzidas para as gentes e os animais. É também o tempo do poder dos sonhos, propiciador do pedido de desejos de fortuna, de saúde, de energia e de comunhão com os outros. Está mais evidente a pujança da vida e a nossa energia está no máximo”, explicou Alberto Tapada sobre a mística da data.
“É breve o momento de celebração, pois quando o Astro Rei, no seu movimento aparente na esfera celeste, atinge o seu ápice, começa de imediato o seu declínio. Então, separando–se da sua amada Terra, partirá na barca da morte, na incessante procura da Terra do Verão”, explicou um dos anfitriões da iniciativa sobre os minutos em que muitos contemplavam a natureza em silêncio ou ao som de cânticos.
Apesar do vento e frio agrestes que contrastavam com as temperaturas quentes que se fizerem sentir nos dias anteriores na capital de distrito, da reflexão passou-se ao convívio, com a partilha de um pequeno-almoço a 1400 metros de altitude a encerrar a actividade.
“Trata-se de uma organização simbólica e particular que poderá ganhar novos contornos”, explicou António Martinho salvaguardando que devem ser os empresários turísticos da região a agarrar mais uma oportunidade de “transformar uma acontecimento anual, natural, em mais um atractivo para que as pessoas se desloquem à região.
Classificando o momento do nascer do sol no cimo da Serra do Marão como de uma beleza “inebriante” e considerando que “em turismo é preciso estar sempre a surpreender”, o presidente da Turismo do Douro sublinhou que é preciso “abrir caminhos” considerar novas “perspectivas”, aproveitando mesmo todo o ciclo natural, como por exemplo também o Equinócio da Primavera, assinalado na madrugada do dia 21 Março.