Quarta-feira, 11 de Setembro de 2024
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Tempos de Contradição

Vivemos tempos que, muitas vezes, tenho muita dificuldade em compreender. Anda por aí agora à solta uma deriva animalista, que começa a atingir o limiar do ridículo.

Cresci com animais, sou contra o abandono de animais e temos a obrigação de cuidar dos animais e respeitar a natureza. Mas um animal não tem o valor e a dignidade de uma pessoa humana. Mas estamos a viver um tempo nebuloso em que já não sei quem tem mais dignidade. 

Aqui há uns tempos foi um alarido por se querer criminalizar o abandono dos pais ou de idosos, o que, na minha opinião, era uma lei justa, e sobretudo humana (há pais que estão meses e meses nos lares sem ver os filhos e no natal ou no verão não faltam urgências com idosos abandonados, sem se saber da família). A proposta legislativa não foi aprovada. Segundo se ouviu, a lei era muito severa, a vida é muito complexa. Agora surge a obrigação de registar os animais e quem os abandonar pode sofrer multas avultadas. Como é que é? Então borrifar-se para um idoso numa urgência ou depositá-lo num lar não é grave e abandonar um animal é grave, merecedor de uma coima? Isto é uma aberração. Grande modernidade, sim senhor. Altíssimos valores se levantam, sem dúvida.

Se é grave abandonar um animal, mais grave é abandonar uma pessoa humana, para o qual não há nenhuma sanção. Mas dizem alguns: mas um animal fica indefeso e perturba a saúde pública. E um idoso sem forças, doente, não fica indefeso? Estamos a chegar à fase mais cruel do individualismo contemporâneo e da fase mais sinistra da sociedade do bem-estar. Fazemos casas cada vez maiores e mais cómodas para encher de cães e de gatos, onde não cabem os pais ou os avós no fim da vida. E notemos quantas voltas o mundo dá. Para lá do mais que visível usar as pessoas para amar as coisas, em vez de usarmos as coisas para amar as pessoas, agora parece que estamos a assistir ao fenómeno de humanizar os animais e animalizar as pessoas. Preocupa-me seriamente o declínio dos valores humanos na sociedade atual. A humanidade precisa de se reconciliar consigo mesma. A humanidade tem de ser mesmo humanidade, a garantia, primeiro que tudo, de que todo o ser humano é acolhido, respeitado, valorizado, amado do princípio ao fim da vida. Se não vamos por aqui, não sei que humanidade queremos construir.

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