Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2024
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António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO | Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real

Todos irmãos

No curto espaço de cinco dias, dois acontecimentos, merecedores de uma atenção muito especial, propõem uma reflexão sobre a sociedade atual e sobre os problemas que milhões de pessoas sofrem no dia-a-dia. Foi, pois, uma semana rica enquanto despertadora de inquietações.

No dia 4, o Papa Francisco tornou pública mais uma encíclica, desta feita, nas suas próprias palavras, uma “Encíclica Social”. Prenúncio de uma mudança de mentalidade, como a “Rerum Novarum”? Pelo menos, incentivadora a essa mudança. No dia 9 foi tornado público pelo Comité Norueguês que o Prémio Nobel da Paz deste ano era atribuído ao Programa Alimentar Mundial da ONU. Se a encíclica papal nos alerta para o mundo onde as injustiças do “globalismo” proliferam, o galardão recebido pela Agência humanitária da ONU realça a importância de se conseguir chegar aos problemas e contribuir para os resolver. Aliás, a frase que a comunicação social destaca é elucidativa – a alimentação é a melhor vacina contra o caos. Ora, não é verdade que em muitas regiões do globo se instalou o caos com o alastramento da Covid-19?!

O Papa Francisco escolheu Assis para testemunhar a importância da vida simples, da fraternidade, da partilha, que o seu guia espiritual Francisco de Assis viveu, em contraponto ao que hoje é comum, a defesa da abertura da economia “que privilegia os interesses individuais e enfraquece a dimensão comunitária da existência”. Quando, há anos, o Papa Francisco falava da Casa Comum, numa outra Encíclica, já estava a chamar a atenção para a importância da solidariedade para sepoder viver com dignidade. Esta é dedicada à “abertura universal da fraternidade e da amizade social”. E toca na ferida que alguns menosprezam claramente: “Existem regras económicas que se mostraram eficazes para o crescimento, mas não tão eficazes para o desenvolvimento humano integral”. Ganha assim mais relevo, ainda, a atribuição do Prémio Nobel da Paz a uma Agência da ONU que tem por missão fundamental ajudar a redistribuir a riqueza, desempenhando uma importante tarefa de “liderança no combate à fome e no apoio às populações em zonas de conflito ou em partes do globo afetadas por fenómenos climáticos extremos”. Ora, numa época em que se sobrevaloriza o nacionalismo e os interesses individuais, mais importante se torna dar realce a uma instituição que se destaca como bom exemplo da abordagem “multilateralista” que, aliás, entende ser fundamental para o futuro.

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