Independentemente das coligações parlamentares necessárias bem como dos perfis a integrar esse novo governo, aguardo com muito interesse o período posterior a esse 10 de março.
Se se confirmar a ausência de cidadãos associados ao distrito de Vila Real desse governo, algo de muito sério devemos passar a reconhecer. Se se confirmar esse deserto de personalidades do distrito de Vila Real nesse governo, teremos, pela primeira vez, três mandatos consecutivos sem vila-realenses no governo.
Como sabemos em Economia, se uma variável mostra o mesmo sentido em três períodos consecutivos então já não está a lateralizar mas antes a confirmar. Três trimestres com queda na produção é já um forte sinal de crise económica no horizonte. Três governos sem olharem para os mais bonitos de nós significa, de facto, que somos feios. Isto é, que somos muito feios.
Governantes não se fabricam de um dia para o outro. Em primeiro lugar, temos de pedir aos respetivos pais que os concebam e que, apesar dos incentivos ao aborto, que os deixem nascer. Depois desse milagre, a região precisa de ter comissões distritais político-partidárias com influência nas respetivas comissões nacionais. A influência pode ter a ver com o número de eleitores mobilizados mas cada vez mais tem a ver com outras dimensões – capacidade de realizar contratos com as empresas que interessam, capacidade de colocar as pessoas que interessam nos postos de trabalho que interessam e a capacidade de alimentar a sobrevivência política de quem interessa. Portanto, se as pessoas associadas a Vila Real – entenda-se ao distrito de Vila Real – não tiverem peso económico, não tiverem influência política nem conseguirem alavancar o jogo político dos líderes nacionais, então dificilmente serão ministeriáveis nem sequer secretariáveis. Servem para a feira das vaidades locais mas anulam-se quando passam o túnel do Marão para Amarante.
Eventualmente, um ou outro poderá almejar ser assessor ou ocupar outro cargo de funções menores. Entenda-se que todos os cargos são importantes para o bem-estar da população e para o desenvolvimento do país. Não quero trocar bons autarcas por maus ministros nem por péssimos secretários de estado. Não quero que bons médicos, professores, e pais de família se tornem políticos rudes sem presença em Lisboa.
Mas a região que teve tantos representantes em tantos governos – desde a corte do Afonso Henriques até governos da democracia constitucional mais recente – parece incapaz de ser fértil em matéria atual. Secou. Eventualmente, estará numa menopausa política. Ou então poderá ser só uma fase do processo de ovulação política. Que, com o devido diagnóstico, com o receituário apropriado e com o acompanhamento clínico certo poderá passar. Porque, hoje em dia, ao contrário do tempo do Afonso Henriques, a felicidade não tem de terminar com a fecundidade. Políticas, entenda-se.