Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024
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Trinta e cinco anos depois

O último ano do regime anterior a 1974 foi um sufoco de boatos, prisões, sinais contraditórios, panfletos que corriam a granel garantindo uma revolução, intensa agitação nos sindicatos, os primeiros sinais da vindicta que lá vinha. Grande parte da culpa era da censura, pontificada por militares, mas não foi despicienda a campanha de ódio cego movida pela direita salazarista contra a direita marcelista. Nessa altura, por razões óbvias, a esquerda e a direita oposicionista ainda não adivinhavam as profundas fracturas que iriam sofrer nos anos a vir. Havia em tudo um cenário de fim de festa. Era perturbador e excitante.

Finalmente, os tanques da revolta chegaram a Lisboa. Soube-o pelo telefonema de um jornalista era madrugada. Liguei o rádio, as marchas militares eram apelativas e, quanto a mim estranhamente, pedia-se que o povo não saísse à rua. Saí imediatamente, a juntar-me a colegas que, como eu, suspiravam pela queda do regime há muitos anos. Aparecia gente de todos os lados, ninguém segurava o povo. Rapidamente fui informada que se tratava de um golpe militar e que, se corresse tudo bem, os dirigentes políticos exilados entrariam no país dentro de poucos dias.

Gostava de ter vivido aquela jornada com total confiança e absoluta alegria, mas não foi assim. Desagradou-me ver a revolta encabeçada pelos militares, que já

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