Também não é só incúria das populações e dos governantes. Não. O que tem faltado é uma visão prospetiva para os territórios que têm ficado abandonados com a sistemática fuga de pessoas, das aldeias do interior para o litoral. Tornou-se inóspito viver-se fora dos centros urbanos de grande ou mesmo de média dimensão.
Temos trazido muitas vezes este tema à consideração dos nossos leitores, mas, perante esta tragédia que se está a abater anualmente, cada vez com maior gravidade, permitam-nos uma sistematização das causas remotas e próximas do flagelo dos incêndios.
O que se está a passar, (últimos vinte a vinte e cinco anos), é uma consequência direta do encerramento dos Serviços Florestais. Estes foram muito contestados nos anos cinquenta a setenta do século passado, em virtude da política de florestação e em particular dos terrenos baldios e incultos. A gestão dos baldios foi praticamente retirada aos seus legítimos proprietários – as populações rurais, dificultando o seu uso para a pastorícia. Com o advento do novo poder de 74, não se descansou, enquanto não acabaram com os Guardas Florestais, que eram, com as suas brigadas, os guardiões das serras florestadas.
Não vamos desenterrar hoje, condenando ou não, o que de bom ou mau se fez. O que é verdadeiro, porém, é que com o vazio criado pela extinção daqueles serviços, as serras, os montes, são lugares de incêndios que anualmente devastam vastas áreas. E não houve, que nos lembremos, nos últimos trinta anos, política governamental de fomento de plantação de novos povoamentos, com as tais espécies autóctones ou mais apropriadas para este clima mediterrânico.
Novas plantações, praticamente só as promovidas pelas empresas de celulose, com espécies que muito se contestam por serem degradantes dos solos. O certo é que os proprietários do mundo rural, a maioria dos quais absentista, não se dispõem a investir em plantações, da espécies que, se tiverem a sorte de não arderem, só passados 50 ou 60 anos permitirão algum retorno económico.
Competiria ao Estado, apoiar com políticas de fomento, a reflorestação dos terrenos abandonados pela agricultura e promover juntamente com as autoridades locais (juntas de freguesias e câmaras municipais) a plantação de florestas, dignas desse nome, nos terrenos do domínio público, baldios e outros. Repare-se que mesmo nesta altura, muito dos terrenos abandonados têm árvores em crescimento desordenado, que com facilidade podem converter-se em floresta ordenada, o que para além de mais, daria muito retorno em salários e fixação dos trabalhadores contratados para fazer este trabalho. Damos como exemplo as Serras do Marão e do Alvão. É só passar por lá.
Uma última nota: Percebe-se que a Administração Central (Ministério da Agricultura) não tem apetência por estas medidas muito simples. Porque não envolver os municípios, nesta tarefa de reflorestar o território? Haverá, por certo, entidades dispostas a financiar a longo prazo (lembramos o Banco Mundial ou o Banco Europeu de Investimento). Entregar este encargo aos municípios é capaz de ser uma medida muito acertada, na altura em que tanto se fala em descentralização, mas com tão pouco sucesso. Fica a sugestão.