Sexta-feira, 13 de Dezembro de 2024
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Um adeus vermelho

A Câmara de Lisboa e o Cemitério do Alto de São João somaram centenas largas de pessoas. Muitas delas seguravam molhadas de cravos, que distribuíam, e bandeiras vermelhas de foice e martelo. Muitas pessoas eram operários e camponeses, e várias exibiam sinais exteriores de fidelidade ao seu partido. Punhos fechados se ergueram entre palavras de ordem quando, qual Passionaria pós-Muro de Berlim, a sevilhana Pilar assomou à varanda do município para lançar cravos vermelhos e agradecer à multidão.

Todas estas imagens de força diluíam os discursos de circunstância e as (não muitas) presenças do meio literário, artístico e político. Na hora última da cremação, que é quando mais pesa o silêncio do triste barro que somos, a multidão cerrou fileiras e punhos, gritou slogans que todos conhecemos desde 1974. Jerónimo Sousa, embora desgostoso, não escondeu o contentamento pelo que os seus olhos viam e os seus ouvidos ouviam. Com razão, porque foi uma bonita e estupenda manifestação comunista. Tudo ali esteve certo.

O que não esteve certo foi o exagero de uma comunicação social que anda na mais completa deriva ética e profissional. Repetiu até à náusea que Saramago tinha sido um combatente pela

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