Foi bom que o Douro, no ano em que é Cidade Europeia do Vinho, tivesse merecido esta efeméride na cidade de Peso da Régua. O 10 de Junho é de Portugal e dos portugueses, aqui e na África do Sul, ou dispersos pelos quatro cantos do Mundo. Uma sina, a nossa, como povo. Desde sempre, por aqui e por ali. Mesmo que alguns não aceitem que, também assim, contribuímos para a mundividência dos tempos novos, a verdade é que, talvez, por obra do destino, assim aconteceu.
Como data marcante da nossa vivência coletiva, seria um bom pretexto para introduzir no debate público a problemática de um país que persiste em se desenvolver de forma desigual. E não se diga que Portugal é um país demasiado pequeno para que se possa falar de dicotomia Litoral-Interior. Porque as diferenças saltam aos olhos. Pois, no decorrer do cerimonial, não se ouviu falar de uma problemática muito própria desta região vitivinícola – a 1ª região demarcada e regulamentada do mundo – a saber, a disparidade dos preços das uvas produzidas com autorização de benefício e sem a mesma. Ora, o custo de produção de umas e de outras é o mesmo. E não foram os lavradores do Douro que se manifestaram. Foram, sim, outros, os que a bolha mediática alimenta. Estes e questões secundárias ligadas à TAP é que despertaram a atenção dos media. Ressalve-se o discurso do Eng. João Nicolau de Almeida, presidente da Comissão Organizadora. E ele sabe da poda. A comunicação social é que não lhe deu o relevo que merecia.
Num dos programas das principais rádios de informação tive eu a oportunidade de tocar assuntos de interesse regional, que mereciam aplauso, ou crítica, como o do Museu do Douro, o dos avanços da linha do Douro para Barca d´Alva e o que acima se refere. Noutro, foi uma choradeira do princípio ao fim. Num dia em que se devem afirmar as marcas positivas dos portugueses, estes queixam-se de tudo e carpem mágoas. Como o Professor Adelino Maltez o qualificou, um discurso que nos mostra “constitucionalmente pessimistas”. E festejamos nós, nesse mesmo dia, o grande Camões! Ora, tudo isso é ainda mais estranho quando estamos no ano em que se celebra o 50º aniversário do 25 de Abril.
Deveríamos, sim, reafirmar os valores da democracia e a importância de manter as suas conquistas que, afinal, como afirma o mesmo académico, nos permite prosseguir um caminho de conquista da felicidade.