Efetivamente, após um Orçamento do Estado aprovado com alguns percalços, embora com esperança num excedente orçamental – era a meta para 2020 – as expetativas para o ano que agora terminou eram muito positivas. O boom turístico levava a crer na continuação de um excelente ano, fazendo jus aos sistemáticos prémios que Portugal ia arrecadando. A procura interna acompanhava a boa performance da economia nacional nas exportações.
Aguardava-se um ano positivo. Tudo se alterou com o fatídico Coronavírus-19 que bateu à porta de Portugal no início de março. O que começara por ser um surto numa cidade chinesa acabou por se tornar uma pandemia. A globalização, muitas vezes “endeusada”, mostrou-se devastadora para as economias europeias. Desde logo, porque as viagens intercontinentais facilitaram a sua disseminação, depois porque fizeram vir ao de cima algumas fragilidades. A desindustrialização foi uma delas, com o risco de falhas graves no abastecimento de equipamentos e produtos necessários ao combate à pandemia.
Os governos definiram formas de combate para evitar danos maiores. A doença era pouco conhecida e disseminou-se a grande velocidade com um número cada vez maior de mortes. Confinamento e desconfinamento entraram no vocabulário do dia a dia. O “fique em casa” foi um slogan muito lido nas redes sociais. O “estado de emergência” que a Constituição de abril contempla tornou-se uma necessidade. Inicialmente, cada Estado-membro da UE tomou as suas medidas, algo desgarradas. A resposta melhorou quando a Comissão Europeia e a Presidência alemã, em julho, começaram a olhar de forma global para todos os membros. Primeiro, apelando a um financiamento de todos à investigação científica em curso para criar uma(s) vacina(s), depois, planeando a sua aquisição também em conjunto. Entretanto, tomou forma uma proposta que estava a dar passos lentos. E de julho a dezembro, foi possível aprovar o orçamento de longo prazo da UE e o NexGenerationEU, este, um instrumento temporário para recuperar e estimular a economia no pós-Covid. Serão 1,8 biliões de euros para ajudar a reconstruir a Europa e torná-la mais verde, mais digital, mais resiliente. O PM português classificou este montante como uma verdadeira bazuca. Afinal, meios para que a esperança que a vacina nos trouxe possa tornar-se realidade. E este ano de 2021 seja de reanimação da economia e de maior coesão social.