Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024
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Um Povo Sacerdotal

1 – A Quaresma é o tempo de aprendizagem gradual da vida cristã para os que vão ser baptizados na Páscoa e tempo de renovação para os que já foram baptizados. Num e noutro caso, a Quaresma deve conduzir a maior união a Jesus Cristo e à comunidade cristã, como um tempo de interioridade cristã e de comunidade eclesial.

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A Quaresma estende-se da Quarta-feira de Cinzas à manhã da Quinta-feira Santa, seguindo-se o Tríduo pascal. Esses quarenta dias colocam-nos na estrada dos grandes acontecimentos da história da salvação: os 40 anos da travessia do deserto do antigo povo de Israel, os 40 dias de viagem e meditação de Elias no Horeb, os 40 dias da pregação de Jonas em Nínive, os 40 dias de Jesus no deserto ao iniciar a vida pública.

2 – Neste de 2010, em que decorre o Ano Sacerdotal, o tema de reflexão quaresmal é o mistério do sacerdócio.

Ao falar de sacerdócio, o pensamento vai, em primeiro lugar, para aqueles que receberam o sacramento da Ordem – os padres e os bispos –, escolhidos por Deus para o serviço do altar e para orientar o povo cristão. São participantes do mistério de Jesus como mediador entre Deus e os homens. E vai, em segundo lugar, para todos os baptizados que formam um povo sacerdotal, mas que não são mediadores. Tanto o sacerdócio geral de todos os baptizados como o sacerdócio dos padres e dos bispos vêm da Páscoa de Jesus e chegam até nós pelo Baptismo e pelo sacramento da Ordem. São dois sacerdócios diferentes e complementares.

A promessa de um povo sacerdotal havia sido feita no Antigo Testamento: «Vós sereis para mim um povo de sacerdotes, uma nação santa» (Êx 19,6). Essa promessa de Deus a Moisés realizou Jesus Cristo, como diz S.Pedro na sua carta: «Aproximai-vos dEle (Jesus Cristo), pedra viva e, como pedras vivas, entrai na construção dum edifício espiritual por meio de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo» (1Petr 2, 4-9). Duas palavras centrais: «sacerdócio santo» e «oferecer sacrifícios espirituais». Antes de S.Pedro, o Apóstolo S.Paulo exprimira-se de modo semelhante na carta aos Romanos: «Rogo-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que ofereçais os vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o culto racional que lhe deveis prestar» (Rom 12,1).

Dizer que a Igreja é um povo sacerdotal, um povo santo, significa que é um povo capaz de se dirigir a Deus mas essa capacidade é um dom de Deus. Só por si, o homem não possuía essa capacidade de oferecer algo validamente porque Deus não se deixa controlar por qualquer espécie de magia. Por meio da Aliança do Sinai, Deus promete fazer do seu povo um povo capaz de oferecer a Deus «sacrifícios» verdadeiros. Mas isso só se conseguiu plenamente por meio de Jesus que, «tendo sido constituído pelo Espírito Santo o Pontífice da nova e eterna Aliança e mantendo-se como o Sacerdote Eterno, revestiu de sacerdócio real todo povo santo e escolheu alguns homens que, pela imposição das mãos, participam no seu sagrado ministério» (Prefácio da Missa do Crisma e das Ordenações).

Aquele sacerdócio geral é diferente do sacerdócio ministerial dos padres, mas exigem-se mutuamente, não havendo vida cristã sem o ministério dos padres, nem havendo padres sem o sacerdócio dos cristãos. O sacerdócio dos padres fá-los participar na mediação de Jesus entre Deus e o mundo; o sacerdócio geral dos fiéis não tem função mediadora, mas torna os cristãos «participantes activos» no sacrifico do altar e capazes de viver a sua vida diária como sacerdotes que «oferecem no altar do seu coração» os sacrifícios diários do seu trabalho profissional e do matrimónio.

3-Esta dimensão sacerdotal da vida cristã está hoje ameaçada pelo clima laico e agnóstico que em tudo vê unicamente actividades produtivos e comerciais e nada reconhece como santo, nem sagrado, nem eterno. Essa mentalidade dificulta a compreensão da vida cristã, o baptismo, o Domingo, o casamento e os próprios padres. O aumento dos casamentos civis, os divórcios, as crianças nascidas fora do matrimónio e o abandono dos compromissos sacerdotais por parte de alguns padres são sinais dolorosos dessa mentalidade laicista.

A Quaresma é o tempo oportuno para retomar a perspectiva cristã, renovar a dimensão baptismal e a prática religiosa e a dimensão sacerdotal dos fiéis. As crianças e os jovens precisam da palavra dos pais para entenderem a grandeza da Quaresma e viverem as práticas habituais da oração, da partilha de bens, da penitência pela salvação dos outros como resposta à iniciativa de Deus e oferta pelos outros.

Para a oração, as paróquias organizarão aos Domingos alguns actos à hora mais conveniente para o povo; as famílias poderão reunir-se nas capelas públicas mais próximas para fazerem a Via-sacra, e, no interior das famílias, seria bom que se moderasse o uso da televisão reservando algumas noites para uma oração familiar. Sugere-se neste ano a leitura da 1ª carta de S.Pedro que fala do sacerdócio dos fiéis, dividindo o texto ao longo da Quaresma: é uma catequese sobre o baptismo de adultos feita por S.Pedro aos cristãos de Roma no tempo do paganismo. Tem o sabor dos primeiros tempos em que a fé cristã era surpresa e novidade e faz-nos bem ouvir essas palavras agora que o paganismo ameaça regressar.

Às famílias e aos padres desta diocese de Vila Real, desejo e peço uma Quaresma esforçada, generosa e orante.

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