Se todos os dias temos notícias do outro lado do Atlântico – pode ser simplesmente a informação sobre a Bolsa de Nova Iorque –, desta vez foram as eleições presidenciais, sobretudo estas, que alimentaram a nossa curiosidade e dos órgãos de comunicação social. Nossa e, decerto, de todo o mundo. Uma vontade de mudança num dos países mais ricos e poderosos do mundo? Por que razão?
O discurso do Presidente eleito, Joe Biden, esclarece a nossa curiosidade. Porque é preciso encerrar a “era sombria”, porque os opositores não são “inimigos”, sem referir o mentor das divisões com muros ou as exclusões no acesso à saúde que se foram verificando nestes quatro anos. Uma bela lição de democracia. Para os seus apoiantes, para os seus opositores, para todos. Isso, afinal, está na essência da democracia, na americana e nas outras. “O povo falou” através do voto, independentemente do tipo de sufrágio – no caso, não é eleição direta por sufrágio universal, é indireta – mas é uma forma de o povo americano se exprimir. Aliás, desta vez, de um modo muito participado. Os Órgãos de Comunicação Social deram nota de que o novel presidente eleito terá sido o candidato que mais votos recebeu dos americanos, mais de 75 milhões! E se a sua tarefa é árdua e difícil, desde logo, pela herança, é urgente e necessária para restaurar a “decência” e a “esperança” e enfrentar a pandemia, recolocando os EUA na Organização Mundial de Saúde e em vários outros fóruns e Organizações Internacionais, de onde nunca deveriam ter saído e em que foram assinados acórdãos fundamentais para a humanidade. A própria relação UE-EUA pode melhorar.
Merece, neste contexto, uma atenção especial o facto de ter sido eleita vice-presidente uma mulher. Discursou vestida de branco, lembrando uma causa de finais do séc. XIX, inícios do séc. XX, a dos direitos das mulheres a votar. Tem-se mostrado uma lutadora pelos direitos humanos e pela igualdade. Tendo origem na comunidade afro-asiática torna-se também um testemunho da multiculturalidade que constitui a América, mostrando, assim, que pode haver uma oportunidade para as mulheres, sejam mulheres negras, asiáticas, brancas ou latinas. E reforça uma outra afirmação de Joe Biden: “defender a democracia e dar a toda a gente uma oportunidade justa”. Ideias fortes para um mandato que se deseja possa começar a 20 de janeiro próximo, reforçando a unidade, a que Biden apelou.