Terça-feira, 21 de Janeiro de 2025
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Uma Curiosa Petição

Jesus Cristo teve sempre o cuidado de alertar para o perigo de a sua Igreja e os seus discípulos se deixarem reger pelos valores mundanos.

E chegou até a ser severo quando se apercebeu de que só pensavam nas coisas dos homens e não nas coisas de Deus, enfeitiçados pelo poder e seus títulos e honrarias. Jesus queria uma Igreja simples, humilde, sem distinções entre as pessoas, profundamente fraternal, sem classes, uma verdadeira comunidade de irmãos ao serviço uns dos outros, unidos no amor de Deus, uma Igreja onde todos se sentem iguais. 

Vem isto a propósito de uma petição que uma irmã religiosa, Mercedes Loring, lançou, apelando ao Papa para acabar com as mitras dos bispos, nas suas palavras, chapéus inúteis que os bispos usam. Os bispos devem testemunhar a simplicidade e a pobreza evangélica, sendo o solidéu suficiente. Não faz sentido ver os membros da hierarquia católica continuarem a usar símbolos de poder, resquícios do Império Romano e de outras malfadadas influências na Igreja, parecendo uma classe superior e elevada, com outro nível de valor e importância, com ar de pompa, em profunda contradição com as recomendações de Jesus. E o mesmo se diga de muitos báculos preciosos e de muitas casulas. São apetrechos e símbolos que criam distância, perpetuam a ideia de que a Igreja é uma construção piramidal, com diferenciação entre os que mandam e os que obedecem, os que comandam e os que são mandados, os que sabem e ensinam e os que não sabem e aprendem, a hierarquia e o povo.

Não sei se estas observações de cristãos são exageradas. Noto que muitos bispos, apesar de se submeterem aos usos e costumes da condição episcopal, vivem o seu ministério na fidelidade aos valores pregados por Jesus. Mas não ficaria mal à Igreja levar em consideração a petição e dispor-se a empreender uma reforma de alguns títulos, objetos, vestimentas, que, para além de terem pouca atualidade para a sensibilidade atual, poderão ser pouco consentâneas com a simplicidade e a fraternidade que Jesus exigiu como identificação dos seus discípulos no mundo. Tudo o que possa acabar com a ideia de que na Igreja há cristãos e filhos de Deus mais importantes do que os outros e que a Igreja se rege por uma rígida configuração institucional e hierárquica, com camadas e distinções, é bem-vindo, é um feliz encontro com a verdadeira Igreja dos Actos dos Apóstolos e da doutrina de Jesus e será muito mais apelativa para todos se sentirem mais integrados, acolhidos e responsáveis.

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