O ISEG ficava próximo, o que facilitava a tarefa. A Pós-graduação em Estudos Europeus era aliciante. Estudavam-se as políticas comunitárias clássicas, como as Políticas Agrícola e de Pesca Comum. A Internacionalização e a Política Comercial – dois cadeirões algo complicados – também faziam parte do currículo. Mas destacava-se um módulo designado por “Coesão Económica e Social”. Aliciante na problemática em análise, mas também porque era um dos novos pilares do recente tratado. Pode sintetizar-se assim: “abordagem de assuntos sociais e económicos que permitissem o crescimento e desenvolvimento, tratando da agricultura, do ambiente, da saúde, da educação, da energia, da investigação e de desenvolvimento”. Aqui se enquadra a criação do euro e as políticas que deviam levar a uma maior coesão económica e social.
Ora, vinte anos depois, com a crise de 2008, estes temas pareciam ter sido esquecidos. Grécia, Irlanda, Portugal foram dos países mais afetados. Precisamente, os países mais periféricos, que integravam o grupo de países da coesão. As exigências da moeda única e a disciplina orçamental criaram-lhes dificuldades acrescidas. Os portugueses e os gregos sentiram-no bem.
Pois há dias, Jean-Claude Juncker, Presidente da Comissão Europeia, considerou dever fazer um “mea culpa” público. E na sessão do Parlamento Europeu (PE) que comemorou os 20 anos do euro sentiu o dever de afirmar: “Não fomos suficientemente solidários com a Grécia”. Decerto, nem com outros países. Ouvi estas palavras e de imediato senti necessidade de ver a reportagem. E um pouco mais à frente encontra-se o reconhecimento de que a Europa podia ter resolvido os problemas desses países, a contento, sem deixar que o Fundo Monetário Internacional esmagasse as economias e as sociedades, como aconteceu.
É por isso que vale a pena lembrar esta temática quando nos aproximamos de novas eleições para o PE. A União Europeia deve estar atenta e desperta para as questões com que se confrontou, pois numa União, quando um membro está com dificuldades, todos estão. E os arautos da desgraça, os que nunca aceitaram políticas de coesão como trave-mestra das políticas europeias, têm vindo a capitalizar descontentamentos para ganho de causa própria. Claro que há um caminho a fazer. Juncker, no discurso referido, tem-nas bem presentes. Uma delas é a “convergência económico-social dos Estados-membros que “ainda deixa a desejar”. O aprofundamento da construção de uma Europa solidária é premente. Precisamos de uma Europa de união económica e monetária, mas também de união bancária e de outras uniões. Tarefa ingente? Se for uma tarefa de todos os Estados-membros será mais fácil. Talvez o exemplo português dos últimos anos seja um bom exemplo.