Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024
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António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO | Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real

Uma Europa solidária

Quando há pouco mais de duas dúzias de anos se debatiam as virtualidades da moeda única para uma Europa pós-Tratado de Maastricht, quis aproveitar algum tempo livre para conhecer melhor as temáticas europeias. 

O ISEG ficava próximo, o que facilitava a tarefa. A Pós-graduação em Estudos Europeus era aliciante. Estudavam-se as políticas comunitárias clássicas, como as Políticas Agrícola e de Pesca Comum. A Internacionalização e a Política Comercial – dois cadeirões algo complicados – também faziam parte do currículo. Mas destacava-se um módulo designado por “Coesão Económica e Social”. Aliciante na problemática em análise, mas também porque era um dos novos pilares do recente tratado. Pode sintetizar-se assim: “abordagem de assuntos sociais e económicos que permitissem o crescimento e desenvolvimento, tratando da agricultura, do ambiente, da saúde, da educação, da energia, da investigação e de desenvolvimento”. Aqui se enquadra a criação do euro e as políticas que deviam levar a uma maior coesão económica e social. 

Ora, vinte anos depois, com a crise de 2008, estes temas pareciam ter sido esquecidos. Grécia, Irlanda, Portugal foram dos países mais afetados. Precisamente, os países mais periféricos, que integravam o grupo de países da coesão. As exigências da moeda única e a disciplina orçamental criaram-lhes dificuldades acrescidas. Os portugueses e os gregos sentiram-no bem. 

Pois há dias, Jean-Claude Juncker, Presidente da Comissão Europeia, considerou dever fazer um “mea culpa” público. E na sessão do Parlamento Europeu (PE) que comemorou os 20 anos do euro sentiu o dever de afirmar: “Não fomos suficientemente solidários com a Grécia”. Decerto, nem com outros países. Ouvi estas palavras e de imediato senti necessidade de ver a reportagem. E um pouco mais à frente encontra-se o reconhecimento de que a Europa podia ter resolvido os problemas desses países, a contento, sem deixar que o Fundo Monetário Internacional esmagasse as economias e as sociedades, como aconteceu.

É por isso que vale a pena lembrar esta temática quando nos aproximamos de novas eleições para o PE. A União Europeia deve estar atenta e desperta para as questões com que se confrontou, pois numa União, quando um membro está com dificuldades, todos estão. E os arautos da desgraça, os que nunca aceitaram políticas de coesão como trave-mestra das políticas europeias, têm vindo a capitalizar descontentamentos para ganho de causa própria. Claro que há um caminho a fazer. Juncker, no discurso referido, tem-nas bem presentes. Uma delas é a “convergência económico-social dos Estados-membros que “ainda deixa a desejar”. O aprofundamento da construção de uma Europa solidária é premente. Precisamos de uma Europa de união económica e monetária, mas também de união bancária e de outras uniões. Tarefa ingente? Se for uma tarefa de todos os Estados-membros será mais fácil. Talvez o exemplo português dos últimos anos seja um bom exemplo.

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