Sexta-feira, 6 de Dezembro de 2024
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Uma verdade inconveniente

Como que antecipando aquilo que acabou por suceder no passado domingo, utilizamos este nosso espaço há cerca de quinze dias atrás para fazer um apelo à participação de todos os nossos leitores nestas eleições para o parlamento europeu.

No rescaldo das mesmas cumpre em primeiro lugar assinalar de forma positiva (ainda que estes pequenos passos tenham apenas decorrido 45 anos depois do 25 de Abril) três das várias inovações introduzidas neste processo eleitoral e que esperamos tenham vindo para ficar.

Falamos a este respeito da introdução da votação em Braille para as pessoas cegas (permitindo pela primeira vez a estes cidadãos o exercício do seu direito de voto de forma completamente autónoma e impedindo que se verificassem as habituais situações constrangedoras que nada dignificavam a nossa democracia), a experiência piloto de voto electrónico ocorrida em Évora e a generalização da utilização do voto antecipado (cuja utilização aumentou cerca de 500%).

Existe, no entanto, um facto insofismável resultante deste acto eleitoral: o enorme e histórico score da abstenção neste acto eleitoral (68,64%). 

Número que julgamos deverá merecer uma ponderada reflexão por parte de todos, pese embora seja hoje já claro que o aumento do número de inscritos nos cadernos eleitorais inflacionou a taxa da abstenção, embora em números absolutos tenham votado mais eleitores.

Não podemos, no entanto, escamotear que os protagonistas, a classe política, tem o dever de repensar a forma como pretende fazer passar a sua mensagem. Talvez seja tempo de esquecer “a rota do lombo assado”, os grandes comícios, privilegiar as sessões temáticas/sectoriais e o contacto pessoal e próximo com o eleitorado.

Importa também não esquecer que as proibições (que consideramos exageradas) impostas pela Comissão Nacional de Eleições e o facto de muitas vezes as campanhas eleitorais (espaço de esclarecimento por excelência) se terem transformado numa enorme e penosa procissão de soundbytes proto mediáticos e insultos sem conteúdo, que só resultam num progressivo afastar dos cidadãos da vida cívica.

Mas a verdade realmente inconveniente é que esta abstenção resulta muito do comportamento de cada um de nós: quantos de nós preferem falar/criticar tranquilamente no sossego de uma conversa de café com amigos em detrimento de nos envolvermos no dia-a-dia da nossa comunidade? Porque adoramos criticar os políticos e depois não exercemos o maior poder que existe em democracia, porque nos eximimos de votar?

Com toda a certeza que facilmente poderemos descarregar nos políticos a resposta/motivo para este nosso comportamento mas, na realidade, o que se verifica é que através da abstenção apenas deixamos que outros decidam por nós. Constituindo este o busílis da questão e a verdadeira inversão que em comunidade temos de conseguir fazer: independentemente do sentido, não podemos deixar de exercer o nosso dever cívico de votar.

No demais, em Portugal o Partido Socialista ganhou claramente as eleições com 33,4% dos votos. Facto que, considerando que neste momento governa o país, já não sucedia há 20 anos e que pode significar um bom prenúncio para eleições legislativas que se avizinham. Por outro lado, o Partido Social Democrata alcançou (com os seus 22,2%) o seu pior resultado eleitoral de sempre.

De salientar pela positiva o facto de os portugueses terem sabiamente e uma vez mais penalizado/rejeitado as propostas politicamente mais extremas (como o discurso deste CDS de Nuno Melo) e com um carácter mais populista (como o BASTA de André Ventura ou o PDR de Marinho e Pinto).

O autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico

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