Sexta-feira, 13 de Setembro de 2024
No menu items!
António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO | Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real

Uma vida congelada, ainda com esperança

Há dias, a televisão meteu-nos porta dentro, porventura refastelados num bom sofá, a notícia: «Portugal vai receber 1000 migrantes e refugiados que vivem na Grécia» (RTP, 20 Ago, 2019).

Despreocupados, continuámos a tomar o café da tarde; ouvimos de novo a declaração do ministro grego da Proteção Social afirmar que é uma “demonstração de solidariedade positiva e importante este acordo que veio de Lisboa”. Pois…

Nem todos se mantêm indiferentes a esta realidade que, de vez em quando, nos chega pelos “media”. Umas vezes, já em momento de solução; outras, que nos narram as crianças e adultos que navegam à deriva no Mediterrâneo, sem país que aceite oferecer-lhe porto seguro para acostar. A Gabriela foi uma dessas pessoas que não ficou indiferente perante tais notícias. E tomou uns dias do seu tempo para dedicar a refugiados que na Grécia esperam – por vezes uma esperança que tarda imenso – receber a notícia de autorização de acolhimento num dos países desta Europa que se construiu com os fluxos migratórios de muitas regiões do Próximo e Médio Oriente, da Ásia e da África, que deve à Grécia e a Roma a sua cultura, mas que num ou noutro país resiste a receber quem hoje foge aos malefícios de guerras fratricidas ou a condições desumanas de vida. 

Skaramagas é um Campo de Refugiados a cerca de 30/40 minutos de Atenas, parte de um estaleiro junto ao mar, onde estão à volta de 2 500 pessoas, 40% com menos de 18 anos, “numa espécie de sala de espera, em que as pessoas têm a vida como que congelada, a aguardar autorização para entrar num país da Europa e recomeçar a sua vida”. Com apurado sentido de justiça, “revoltada perante algumas situações que se vivem no mundo, designadamente, perante as situações com que se deparam os refugiados e a atitude passiva dos poderosos, resolveu fazer alguma coisa para minorar os problemas dessas pessoas”. Foram três semanas de trabalho, enquadrado por técnicos de uma ONG norueguesa, a Drop in the Ocean. Ali entregou muitas gotas do seu esforço, com grande sentido humanitário, em doação a uma boa causa: “acompanhamento e apoio às mães, atividades de tempos livres com as crianças, brincar, pintar, limpar os espaços após a sua utilização, acompanhar as crianças em sessões de cinema, enfim, liderar em alguns dias a equipa de voluntários, produzindo o respetivo relatório no final do dia”.

Neste seu contacto com refugiados da Síria, do Curdistão, do Afeganistão, do Iraque, do Irão e de mais um ou outro país da África subsaariana, o que mais lhe chamou a atenção foi a “necessidade de afeto e de atenção por parte das crianças, que precisavam de brincar e de ter com quem brincar, enfim, ser criança”. Algumas tratam dos irmãos mais novos – crianças de 5 anos a tratar de irmãos com 2 ou 3! 

Todas, afinal, a precisar de uma, de muitas gotas de água, num oceano de refugiados, de migrantes, que (des)esperam por um visto na Europa rica  e em paz .

António Martinho com Gabriela Martinho

OUTROS ARTIGOS do mesmo autor

NOTÍCIAS QUE PODEM SER DO SEU INTERESSE

ARTIGOS DE OPINIÃO + LIDOS

Notícias Mais lidas

ÚLTIMAS NOTÍCIAS