Depois de vinte anos de actividade, a Associação de Pastores Transmontanos continua a lutar pelos interesses da actividade pastoril, lembrando velhas reclamações e enumerando novas preocupações de um sector que, apesar de cada vez mais envelhecido, ainda é considerado um “Elemento Revitalizador do Mundo Rural”.
Mais de uma centena de pastores transmontanos participou, no dia quatro, nas comemorações do aniversário da associação que, há 20 anos, lhes dá voz, a Associação dos Pastores Transmontanos (APT).
Sedeada em Vila Real, a APT nasceu primeiro como um movimento e apenas em 1988 formalizou os seus estatutos, constituindo-se, assim, como a primeira associação de âmbito regional do sector, seguindo-se, depois, a constituição de outras associações ligadas às raças autóctones.
A actividade da associação teve como ponto de partida “uma grande assembleia que reuniu (a 29 de Março de 1981) 110 pastores, em Mirandela, altura em que foi aprovada a primeira Carta dos Pastores”, recordou Armando Carvalho, dirigente e impulsionador da APT, desde a sua criação.
Desde então, a associação tem lutado pelos interesses dos seus associados, um sector cujas problemáticas e preocupações se mantêm, desde há 20 anos, com o agravante de, “de ano para ano”, se registar a redução do número de pastores.
“Hoje, a média de idades dos 600 associados da APT ronda os 65 anos”, explicou o mesmo responsável, revelando, no entanto, que, por outro lado, “há uma maior concentração do efectivo”.
Segundo dados do último Recenseamento Geral da Agricultura que já conta com quase dez anos, em 1999 existiam, na região, 5.363 explorações de ovinos, num total de cerca de 330 mil animais, e 3.096 explorações de caprinos, com mais de 73.000 efectivos.
Entre as primeiras preocupações, expressadas pelos agricultores, Armando Carvalho realça a necessidade, sentida na altura, de “dissociar a imagem do pastor” de aspectos negativos. “As pessoas viam os pastores como pessoas sem regras e que viviam à margem da sociedade”, referiu.
Os ataques dos lobos, a liberdade no pastoreio, as questões sanitárias eram apenas mais algumas das problemáticas expressadas na primeira Carta dos Pastores transmontanos, algumas das quais persistem, tendo sido focadas, mesmo, durante o seminário comemorativo que decorreu em Cidadelha de Aguiar, no Domingo.
“As questões ligadas à sanidade animal (particularmente as medidas profilácticas, análises laboratoriais e abates dos animais) e a desresponsabilização do Estado nas suas funções, com a transferência, cada vez mais, de avultados encargos financeiros para os produtores”, foram alguns temas focados no encontro, revelou a APT, em comunicado.
“O fogo controlado, uma técnica de gestão do pastoreio e a sua importância na prevenção dos incêndios florestais”, “os produtos de qualidade, produzidos em toda a região, de importância determinante na dinamização da actividade agro-pecuária e da revitalização do mundo rural”, “as crescentes exigências nacionais e comunitárias, no que diz respeito à condicionalidade, bem-estar animal, boas práticas agrícolas e licenciamento, sem ter em conta a tipologia das explorações familiares de pequenos ruminantes”, “os atrasos na implementação do novo Plano de Desenvolvimento Rural e a eliminação, no PRODER, de várias medidas agro-ambientais de real importância para toda a região” foram outras das temáticas abordadas num encontro que terminou “nos cumes do Alvão, ao som dos cantares ao desafio e das concertinas, retomando a génese e prática de anos da associação, no contacto da relação entre os pastores e a serra”.
Foi neste cenário que os pastores elegeram os novos corpos sociais, para o próximo mandato, tendo sido apresentado o Livro “O Pastor” que reune diversos testemunhos de vários praticantes da actividade pastorícia. Mas, acima de tudo, os pastores transmontanos lançaram “um grito aos governantes para que, de uma vez por todas, olhem para este sector da actividade e satisfaçam as novas e velhas reclamações”.
Maria Meireles