A presença da terrível doença foi confirmada, ao Nosso Jornal, pela directora executiva da Delegação da Forestis, em Vila Real, Rosária Alves. A Voz de Trás-os-Montes acompanhou em Vila Verde da Raia (Chaves) uma operação da GNR de controlo de tráfego. Uma fonte do NPA adiantou alguns pormenores da fiscalização em curso. “A nossa tarefa visa a fiscalização de todo o material lenhoso que é transportado. Quer os toros dos pinheiros, quer as paletes têm que estar marcados de forma a indicar que passaram por um processo de tratamento. Para o transporte de material lenhoso é necessário, para além de um selo marcado na madeira, a posse de um passaporte fitossanitário. A GNR iniciou esta fiscalização a 17 de Abril, por todo o país, nomeadamente nas fronteiras e concelhos fronteiriços”. Segundo o mesmo, no caso “de apreensão da carga, é passado um auto e o proprietário pode decidir levantar o material, mas sob o compromisso de ir a uma das empresas que faz o tratamento da madeira, afim da necessária desinfestação”. Para o efeito é lhe fornecida uma lista de empresas que fazem este tipo de tratamento. Também a carga pode ficar apreendida à guarda das autoridades para posterior destruição.
O último caso de irregularidade do não cumprimento das disposições legais aconteceu com uma empresa de construção civil de Chaves. “Na altura, uma carga de paletes ficou apreendida. O proprietário dirigiu-se ao local e decidiu levar a mercadoria à sua responsabilidade sob compromisso de honra de levar as 32 paletes a uma empresa para o seu tratamento”. Jorge Ferreira mostrou o seu descontentamento com o sucedido. “Ia a Espanha buscar uma carga e se não levar paletes tenho de as comprar lá, por 15 euros cada uma. A certificação das paletes deve ser uma responsabilidade do fornecedor, isto é uma lei nova, e agora, o que faço agora com todas as paletes antigas que tenho? Quanto custa o tratamento de cada palete?”. Embora concordando com a fiscalização para travar a doença, lamenta que a informação não tenha sido difundida e que não tenha sido dado um prazo para as empresas se prepararem. Nesta operação, as autoridades também repararam que havia paletes que correspondiam às normas de tratamento e não eram acompanhadas por passaporte fitossanitário.
Rosária Alves, da Forestis, traçou o que a sua associação florestal está a fazer no terreno. “Estamos a dar assistência técnica às associações, nomeadamente aquelas que foram declaradas como afectadas a partir de Abril de 2008. Apoiamos os proprietários com a identificação dos exemplares com nemátodo e depois fazemos a erradicação desses exemplares. Este trabalho está agora a terminar, porque, a partir de final de Abril e início de Maio, o insecto vector começa a voar e estas operações são impossíveis de realizar. Assim sendo, não se deve fazer transporte de madeiras de umas regiões para as outras. Realço que estamos a actuar dentro do Plano Nacional do Combate ao Nemátodo. A Secretaria de Estado começou a trabalhar connosco na operacionalização do plano, desde Janeiro, em todo o país.
Rosaria Aires confirmou, ao Nosso Jornal, que o “primeiro foco da doença foi identificado em Boticas. Neste momento, estamos a fazer a erradicação e os trabalhos estão quase a terminar. É uma área relativamente pequena em relação às áreas da região centro. Mas, há que estar sempre alerta ao primeiro sinal para aumentarmos também a eficácia da gestão que tanta falta faz nas áreas florestais, depois dos grandes incêndios que ocorreram naquela zona”.
Esta responsável alertou para o facto de haver uma levada densidade de pinheiro. “Há ali uma grande área de baldio com pinheiro bravo que necessita de intervenção e contributo do Estado para manter a mancha de pinhal. As organizações estão disponíveis para ajudar.
Para o futuro, a Forestis vai avançar com uma grande campanha de informação. “Vamos começar, já em Maio, com uma iniciativa de sensibilização para essa zona. Agora, com o trabalho de assistência terminado, vamos começar com as associações florestais associadas a distribuir prospectos e, já este mês, vai seguir informação, via CTT, para algumas das freguesias vizinhas das zonas identificadas com a doença. Depois, vamos partir para uma campanha geral com distribuição de brochuras, fichas técnicas que informam as pessoas sobre a doença do nemátodo, o seu ciclo de vida, o que devem fazer e a quem recorrer, caso se aperceberem que o seu pinhal possa estar afectado”.
A Autoridade Florestal Nacional vai também lançar uma campanha nas rádios regionais para divulgar e informar as populações.
Refira-se que o nemátodo da madeira do pinheiro foi detectado pela primeira vez, em Portugal, em Maio de 1999, na península de Setúbal, tendo, provavelmente, entrado através do porto de Setúbal em navios provenientes da China ou Japão, locais onde já se reconhecia a sua presença e o efeito patogénico. Desde essa altura, foram tomadas diversas medidas ao abrigo do PROLUNP – Programa Nacional de Luta Contra o Nemátodo da Madeira do Pinheiro, de forma a confiná-lo a essa área, impedindo a sua dispersão pelo restante território nacional e a erradicação deste agente. Contudo, tal missão revelou-se inglória e, agora, a doença tende a instalar-se em outras zonas do país.